Diariamente, desde muito, Teresinha pedira na oração que o seu martírio de amor, “depois de havê-la preparado para comparecer perante Deus, a fizesse enfim morrer”.
Nisso também foi atendida.
Extenuada pela moléstia, não pôde fazer, sem socorro, o mais leve movimento. Ouvir falar, mesmo em voz baixa, é-lhe um suplício. A febre e a opressão lhe não permitem articular uma só palavra sem a mais extrema fadiga. O médico repete a cada visita:
E ele não sabe a angústia incomensuravelmente mais profunda da sua alma!…
O Capelão do Carmelo, doente, não pôde visitá-la; e é a outro padre que tem de fazer a sua derradeira confissão.
Desde o dia 19 de Agosto, incessantemente sob a ameaça de novas hemoptises, não pode mais receber a Sagrada Comunhão. Todos os socorros parecem faltar-lhe há um tempo!
Apesar de tudo, ela conserva a sua atitude tranquila e graciosa. O sorriso, o seu heroico sorriso aflora-lhe sempre os lábios pálidos.
“Oh! como o bom Deus é bom, exclama às vezes. Sim, é preciso que Ele seja bom para me dar a força de suportar tudo o que estou sofrendo!”
De quando em vez, apesar da fadiga extrema, seus lábios se entreabrem para dizer o seu amor, a sua resignação, a sua felicidade.
Recolhamos algumas dessas pérolas:
“Nosso Senhor, no Horto das Oliveiras, gozava de todas as delícias da Trindade, e, no entanto, nem por isso sua agonia era menos cruel. É um mistério! Asseguro-lhes, porém, que compreendo alguma coisa dele pelo que eu própria sinto”
E em outro dia:
“Morrer de amor, como Nosso Senhor morreu de amor na cruz, parece-me que é o que experimento!… Está tudo bem, tudo está consumado! É só o amor que voga!”
Perguntam-lhe:
“É bem duro sofrer tanto, não é? — Não, eu ainda posso dizer ao Bom Deus que O amo; isto basta!. Achei a felicidade e a alegria na terra, mas unicamente nos sofrimentos, pois muito sofri neste mundo; será preciso dizer que está no fundo da minha alma a alegria e os transportes; mas isto não alentaria tanto as almas, se elas julgassem que eu não sofri muito!”
Em resumo, como apontou um de seus panegiristas, “nem um só átomo de prazer, mas toda a felicidade”.
Assim, através dos sofrimentos, com o coração a pulsar de amor, com o rosto iluminado pelo sorriso, pouco a pouco, dia por dia, chega o dia supremo, o 30 de setembro de 1897.
Pela manhã ela suspira:
“É a agonia purinha, sem mistura alguma de consolo”
Pouco mais tarde, este grito de angústia:
“Se é isso a agonia, que é então a morte?”
E no meio do dia:
“Minha Mãe, o cálice está cheio até a borda! Não, nunca teria crido que fosse possível sofrer tanto! Só me posso explicar isso pelo meu desejo extremo de salvar as almas”
Algum tempo depois — recolhamos bem estas palavras:
“Tudo o que escrevi sobre o sofrimento, oh! É bem verdadeiro! Não me arrependo de me haver entregue ao amor”
E repete várias vezes:
“Não me arrependo de me haver entregue ao amor”
Pelas 7 horas comunicam-lhe que a agonia poderia agora prolongar-se por algum tempo. Então, em tom resignado:
“Pois bem, seja, seja! Oh! Não quereria sofrer menos!”
Depois, olhando para o seu crucifixo:
“Oh! Quanto O amo! Meu Deus, eu vos… amo…”
Foram as suas últimas palavras.
“Com grande surpresa nossa, dizem as testemunhas, ela se deixou cair de repente, com a cabeça pendida para a direita… Qual vítima de amor, aguardando do arqueiro divino a flecha abrasada de que quer morrer”
Súbito reergueu-se. O semblante, decomposto pela agonia, fica outra vez fresco e rosado; os olhos, irradiados de surpresa e de alegria, olham direito para a frente; o coração pulsa-lhe fortemente no peito. O êxtase! O primeiro êxtase de Teresinha. Dura isso o tempo de recitar um Credo. Depois o amor é forte demais, o coração se parte, a cabeça torna a pender, e a alma fica sozinha para continuar o êxtase eterno.
Tal vida, tal morte. Uma palavra resume-as: o amor.
Teresa de Lisieux amou magnificamente.
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