Dessa promessa, podemos ser os beneficiários.
Ninguém é excluído. Ela é denominada a “flor da França”. Flor primorosa, desabrochada em plena seiva, esplendorosa de alvura e rica de perfume. Semelhante, porém, à flor que espalha o seu odor não só pelo canteiro onde tomou raiz, mas por toda a vizinhança e até ao longe. Tanto que a graciosa santinha espalhou o seu perfume pelo mundo inteiro, atraindo à sua veneração todo o universo católico, sem distinção de raças nem de nacionalidades. E sobre todos tem derramado e derramará a sua chuva de rosas.
Ela é uma das mais lindas flores do jardim da Igreja Católica. Assim, o sermos católicos já nos confere um título de beneficiários da sua promessa.
E depois, há um título que todos temos e que basta aos olhos de Teresinha do Menino Jesus: somos pecadores. Foi para eles que viveu, que escolheu as austeridades do Carmelo, sofreu, quis morrer. “Meus filhos, os pecadores”, repetia ela. O primeiro cuja conquista empreendeu, o seu “primeiro pecador”, conforme notou, foi Pranzini, criminoso condenado ao cadafalso.
“Sei que me ouvireis, dirigia-se a Deus. Seja o meu primeiro pecador. Por causa disto, para meu simples consolo, rogo-vos um sinal de arrependimento”
E o teve.
Acima de tudo, se quisermos estar certos de conseguir, peçamos-lhe aquilo que ela principalmente nos quer dar: a sua “pequena trilha”, a desconfiança de nós mesmos, a confiança em Deus, o cuidado de fazer grandemente as pequenas coisas, de sorrir no sofrimento, de irradiar assim a alegria santa que atrai as almas e as faz alçar-se para Deus.
Contudo, não lhe peçamos só serviços, peçamos-lhe também lições.
Ela no-las oferece brilhantes e precisas: para a mente, para a vontade e para o coração.
Lição de sabedoria, pela sua inteligência prática a lhe marcar o reto caminho a igual distância do orgulho que transvia e do desânimo que embota;
Lição de coragem, de força ordenada que vai ao fito através de todos os obstáculos, com arrojo contínuo que nada quebra;
Lição de amor, sobretudo, de amor esplendido que não recusa nada, que oferece tudo! Que exulta de ver que tudo é tomado!
E uma outra lição se desprende dessa curta vida, a qual nos põe em pleno sobrenatural.
Falamos de Napoleão, a propósito de Teresa de Lisieux. Em torno dum e doutra, foi um “tufão de glória”. Mas, salvo neste ponto, tudo diverge nesses dois destinos, tudo nos mostra a distância que separa um grande gênio dum grande coração, e as obras do homem das obras de Deus.
Napoleão fez ver o que pode um homem de gênio, quando trabalha por própria conta, com energia indomável, com confiança ilimitada na sua estrela, com todos os recursos dum grande povo, com todas as cumplicidades do entusiasmo, da sorte e da glória. Foi maravilhoso de audácia, de força e de felicidade. A sua palavra improvisou exércitos heroicos. Seus gestos fizeram tremer o mundo. Esboroou a Europa e reconstruiu-a com sua potente mão. Cimentou a obra com ondas de sangue. Ornou-se com prodigiosas vitórias. Refundiu as fronteiras seculares para lhe fazer baluartes. Tomou os irmãos e fê-los reis, para montarem guarda em derredor. Tomou o filho no berço e fê-lo o Rei de Roma, para habituá-lo à glória. Depois, previsto tudo, pôs a mão à espada e prorrompeu:
“O futuro é meu!”
Não. Em alguns dias o futuro lhe foge. Tudo lhe foge: a coroa, os soldados, os amigos, a própria mulher e o filho. Tudo rui daquilo que edificou, e não fica nada, menos que nada: houve que pagar na carne viva da França o resgate do seu orgulho. A obra colossal e sangrenta não foi só vã, foi desastrosa. Ele próprio exclamava com soluços:
“Deixar a França tão pequena, depois de recebê-la tão grande!”
Napoleão passou como a torrente que se precipita, estrepitosa e irresistível, em dia de tempestade; depois, seca e, nos campos atravessados, nada mais deixa que cascalhos estéreis.
A trilha de Teresinha desenrola-se qual córrego calmo e límpido, vindo de fonte profunda, e que só rega as margens, afim de fecundá-las. Ela passou sem ruído, sem atrair os olhares, sem fazer medo nem obstáculo a ninguém, fazendo só pequenas coisas, só tendo de grande o próprio coração, todo aberto para o lado de Deus, como um lírio para o lado do sol. Ascendeu, cândida e radiosa, tomando toda a seiva da sua natureza e todas as graças de Deus, para se fazer sempre mais esplendente de alvura e rica de perfumes. E quando a morte a colheu em plena floração, ela sacudiu os seus perfumes sobre o mundo para embalsamar as almas.
Esplendido trânsito terrestre, sim! Porém, esse esplendor é mero reflexo da sua beleza sobrenatural, como a sua glória terrena é mero reflexo da sua glória do céu. Razão porque sua glória é imperecível. Teresinha só trabalhou para Deus, Deus trabalha para ela, confiando-Lhe o seu poder para realizar os desejos do seu coração, e as almas vêm a ela, atraídas pela admiração, pela gratidão e pelo amor.
Não são os gênios ainda quando fossem conquistadores, são os mansos, são os Santos que “possuem a terra”, porque possuem a Deus.
A vida, verdadeiramente, só dá aquilo que se lhe pede. Aos que lhe pedem pouco — e tudo o que passa é pouco — ela dá só o efêmero, que acaba por não ser nada. Mas aos que o reclamam, ela dá o infinito e o eterno. Dá-o sem olhar a grandeza das obras, que dependem das circunstâncias, porém a grandeza do amor, que depende da liberdade.
Santa Teresinha do Menino Jesus! Iluminai-nos com a vossa luz tranquila! Cumpri a vossa palavra! Continuai a vossa missão — a “missão de fazer amar o bom Deus como vós O amastes, de fazer amar o Amor!”.
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