Coisa estranha! Essa glória, mesmo a da terra, a humilde carmelita previra-a.
Revelação precisa? Não creio. Antes, parece, intuição duma alma profunda e atenta, confirmada por motivos sobrenaturais. A humildade não exclui a verdade nem a gratidão. Pelo contrário. Se deixa a Deus toda a glória, porque Ele a merece e reclama, reconhece e proclama os dons recebidos:
Inteligência nítida e coração reto, ela tomava consciência, cada vez mais, das suas relações com Deus. Sabia que não lhe recusava nada. Experimentava que obtinha tudo dEle.
Pouco a pouco, pelo fim da vida, sentiu, de alguma sorte, que todos os seus grandes desejos para a terra e para o céu seriam atendidos. Com simplicidade, de quando em quando deixou brotar a confissão disso:
“O bom Deus carregou-me de graças para mim e para os outros”
“Bem será que Ele me faça todas as vontades no céu, porque eu nunca fiz as minhas na terra”.
Suas irmãs diziam-lhe:
“Você nos olhará do alto do céu?” — “Não, eu descerei. Nunca dei ao bom Deus senão amor, Ele me pagará com amor. Depois da minha morte, farei cair uma chuva de rosas… Amar, ser amada e tornar a terra para fazer amar o Amor… Sinto que minha missão vai começar, a minha missão de fazer amar o bom Deus como eu O amo; de dar a minha pequena trilha às almas. Quero passar o céu em fazer bem na terra. Não é impossível, visto que no próprio seio da visão beatífica os anjos velam por nós. Não, não poderei tomar nenhum descanso até ao fim do mundo! Mas quando o anjo disser: ‘O tempo não existe mais’, então descansarei, poderei gozar, porque o número dos eleitos estará completo”
A história da sua vida, ela a escrevera por obediência e não se preocupou mais com ela. Porém, nas últimas semanas, recomendou que a publicassem:
“É um meio de que o bom Deus se servirá. Aí vai a minha alma! Sim, essas páginas hão de fazer grande bem. Conhecer-se-á melhor a doçura do bom Deus… e sinto-o, acrescenta, toda gente me amará”
Estranhas todas essas palavras em lábios que vão morrer! O mais estranho é que todas se realizam aos nossos olhos.
E outras mais, não menos surpreendentes. Traziam-lhe rosas, que ela desfolhava no seu crucifixo:
“Apanhai bem essas pétalas, servir-vos-ão para obsequiar”
Serviram para fazer milagres.
Como lhe falassem da dor que a irmã Paulina teria com a sua morte, ela respondeu:
“Não fique intranquila, ela não terá tempo de pensar na sua mágoa; pois, até ao fim da vida, ficará tão ocupada de mim, que nem sequer poderá bastar para tudo”
Ela esteve e ainda está muito ocupada.
Outro dia, na mesma intenção de confortar as irmãs, dizia-lhes — uma carmelita falando a carmelitas:
“Depois da minha morte, vocês irão à caixa das cartas, e encontrarão lá consolações”
Trinta anos são passados. A caixa postal se enche todo dia, trazendo, de todos os cantos do universo, a mais alta consolação de que possa fruir o coração fraterno.
Em resumo, dois grupos de fatos claríssimos, seguríssimos: de um lado, promessas estupendas e categóricas, reduzindo-se nestas:
“Passarei o meu céu em fazer bem na terra!”
De outro lado, trinta anos de prodígios, mostrando que Deus ratificou a promessa.
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