sábado, 5 de novembro de 2016

Como o fogo do purgatório atormenta as almas

I. Sendo o fogo do purgatório material e corporal, perguntar-se-á talvez como pode atuar sobre as almas despojadas dos corpos. Da mesma maneira, responde o Papa são Gregório, que Lúcifer e os anjos rebeldes, ainda que sejam puros espíritos, são atormentados pelo fogo do inferno, assim as almas separadas dos corpos o podem ser e são com efeito queimadas, antes do juízo universal, no purgatório e no inferno. O fogo dos abismos é um instrumento da justiça de Deus, que tem o poder de punir uma alma por meio do corpo, como leem o de animar um corpo por meio do espírito. O motor desta ação, ainda que espantoso e desconhecido para nós, não deixa contudo de existir, concluí S. Bernardino de Sena que seria uma presunção imperdoável o querer, com as  vistas limitadas do homem, sondar as maravilhosas obras do poder divino.

11. Os Santos Padres e os doutores, querendo fazer-nos compreender de que maneira o fogo do purgatório atormenta as almas encerradas naquelas horríveis prisões, nos dizem que isto se faz da seguinte maneira : como as almas já não têm corpo como em vida, o fogo se liga e une tão estreitamente a estes puros espíritos, que se torna para eles como um outro corpo que os tortura; esta ideia enche de temor e espanto, e contudo não é senão uma ideia humana, que está muito abaixo da verdade.
Quanto é, pois, inexprimível o tormento, que padecem aquelas pobres almas !

III. Consideremos, portanto, cristãos, que aquelas almas não têm mãos como as nossas, mas sim mãos de fogo ; nem pés como os nossos, mas pés de fogo ; nem os outros membros como nós os temos, de carne e de ossos, mas, sim, membros de fogo. A cabe­ça é fogo sempre ardente; o peito, fogo que sempre queima, fogo sempre devorador ; todas as partes do corpo, fogo que arde sem cessar. Não vêem senão fogo, não ouvem senão fogo, não respiram senão fogo ; existem em fogo , não tocam senão fogo. O' fogo! fogo do purgatório ! só o fogo da caridade te pode mitigar e extinguir! Vivamos, pois, no mundo entre os ardores da caridade, se não queremos, na outra vida, arder no fogo do purgatório.

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