Quando alguém agoniza no meio de sofrimentos, todos tem compaixão dele. Se ao menos o condenado tivesse uma pessoa que se compadecesse! Mas não; o miserável morre de dor a todos instantes, e nunca haverá quem tenha pena dele. Encerrado numa sombria prisão, o imperador Zenon gritava: Abri por piedade! Como ninguém o atendesse, acharam-no morto de desespero, havendo devorado os próprios braços. Os condenados gritam do fundo do inferno, diz São Cirilo de Alexandria, mas ninguém os irá libertar, ninguém deles se compadecerá. Nem eripit, nemo compatitur!
E quanto tempo durará este misérrimo estado? Sempre, sempre! Lê-se nos Exercícios espirituais do Padre Segneri, que um dia, em Roma, se perguntou ao demônio, na pessoa de um possesso, quanto tempo devia ficar no inferno. Ao que o demônio respondeu com raiva, batendo com a mão numa cadeira: Sempre! Sempre! O espanto foi tão grande, que muitos moços do Seminário Romano, que estavam presentes, fizeram logo confissão geral e mudaram de vida, feridos por este terrível sermão em duas palavras: Sempre! Sempre!
O Bem aventurado João de Avila converteu uma senhora dizendo: Minha senhora, pense nestas duas palavras: Sempre! Nunca! É o que nós também devemos fazer se nos quisermos salvar: meditemos frequentemente nestas duas palavras: sempre e nunca; e nos dias de vida que porventura nos restem, procuremos viver tendo continuamente em vista a nossa eternidade. Quem vive pensando na eternidade, foge da ocasião do pecado e procura unir-se cada vez mais a Jesus Cristo por meio de orações frequentes; quem reza, com certeza se salva, e quem não reza, com certeza se condena.
Ó meu amadíssimo Jesus, se um dia tiver a desgraça de me condenar, estarei para sempre no fogo do inferno longe e separado de Vós. E ai de mim! Sei com certeza que muitas vezes tenho merecido esse inferno. Mas também sei que com certeza que Vós perdoais a quem se arrepende, e que livrais do inferno aquele que espera em Vós. Vós mesmo me dais esta certeza: Clamabit ad me... eripiam eum et glorificabo eum. - Chamará por mim... Livra-lo-ei e glorifica-lo-ei. Apressai-Vos, ó meu Senhor, apressai-Vos a perdoar-me e livrar-me do inferno. Pesa-me ó meu soberano Bem, pesa-me, acima de todos os males, de Vos haver ofendido. Restitui-me a vossa a graça e dai-me o vosso santo amor.
Se eu estivesse agora no inferno, não Vos poderia mais amar. Ah, meu Deus! Que tendes feito de mal para que eu Vos odeie? Vós me amastes até morrer por mim; sois digno de amor infinito. Meu Senhor, não permitais que eu me afaste de Vós. Amo-Vos e quero amar-Vos sempre. - Quis me separati a caritate Christi? - Quem me separará do amor de Cristo? Meu Jesus, somente o pecado me pode separar de Vós; porém, não o permitais, eu Vo-lo suplico pelo sangue que derramastes por mim; deixai-me antes morrer. Ne permittas me separari a te - Maria, minha Rainha e minha Mãe, ajuda-me pelas vossas orações; alcançai-me antes a morte, e mil mortes, do que separar-me eu do amor de vosso Filho.
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