Sumário.
É, sobretudo, por três motivos que o Senhor permite que as suas mais
queridas almas sejam mais freqüente e fortemente tentadas: para as
conservar na humildade, para as desapegar da terra e para as enriquecer
de merecimentos. Cada tentação vencida é uma pedra preciosa engastada em
nossa coroa celestial. Nem por isso devemos desejar as tentações; mas
quando o demônio nos assalta, sem que lhe tenhamos dado ocasião,
entreguemo-nos a Deus e não temamos; pois, se Ele nos lança ao combate,
dar-nos-á também com a tentação a força para resistir.
I. Para as
almas que amam a Jesus Cristo não há trabalho maior que as tentações;
porquanto todos os outros males as levam a unir-se mais a Deus,
aceitando-os com resignação, ao passo que as tentações as levam a
separar-se dele. — Saibamos, porém, que muito embora todas as tentações
que induzem ao mal não venham nunca de Deus, mas do demônio ou de nossas
más inclinações, todavia permite às vezes o Senhor, que as suas mais
queridas almas sejam mais tentadas.
E
permite-o por vários motivos. Primeiramente, afim de que pelas tentações
conheçam mais claramente a sua fraqueza. Quando uma alma se acha
favorecida de consolações divinas, julga-se apta para sustentar qualquer
assalto e para executar qualquer empresa. Mas quando se sente
fortemente tentada e se vê à borda do precipício, então é que conhece
melhor a sua miséria e a sua impotência para resistir, se Deus a não
socorresse.
Mais: as
tentações desprendem a alma do mundo e fazem-na desejar a morte, para se
ver livre de tantos perigos de ofender a Deus. Assim aconteceu a São
Paulo, que, sendo assaltado por uma tentação sensual, afim de que se não
vangloriasse de suas revelações, exclamou: Infelix ego homo! Quis me liberabit de corpore mortis huius? (1) — “Infeliz homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”
Finalmente,
Deus permite que sejamos tentados para mais nos enriquecer de
merecimentos. A água estagnada corrompe-se facilmente. Assim a alma,
estando quieta sem combate, acha-se em perigo de se perder por alguma vã
complacência em seus merecimentos. — Quando é, porém, agitada pelas
tentações, recorre a Deus e à divina Mãe; renova a sua resolução de
antes morrer do que pecar; humilha-se e lança-se nos braços da
misericórdia divina; numa palavra, é então que pratica as virtudes mais
agradáveis ao Coração de Deus e adorna mais a sua própria coroa. Cada
vez que vencemos uma tentação, ganhamos uma nova coroa, diz São
Bernardo: Quoties vincimus, toties coronamur.
II. Por
serem as tentações vantajosas, não se conclua que devamos desejar
tentações. Antes devemos pedir a Deus que nos livre delas, especialmente
daquelas nas quais vê que seríamos vencidos. É isto o que significa
esta petição do Pai Nosso: Et ne nos inducas in tentationem — “Não nos deixeis cair em tentação”.
Mas quando Deus permite que nos assaltem, é mister que, sem nos
inquietarmos, confiemos em Jesus Cristo e lhe peçamos socorro, e Ele de
certo não deixará de nos dar força para resistirmos. Diz Santo
Agostinho: Entrega-te a Deus e não temas; pois se Ele te expõe ao
combate, por certo não te deixará só, para que caias.
Não nos
assustemos, pois, por vermos que um mau pensamento, uma sugestão do mal,
não se afasta de nosso espírito e continua a atormentar-nos; basta que
os detestemos e procuremos desviá-los. Santa Joanna Francisca de Chantal
foi por mais de quarenta anos atormentada de mil tentações; apesar
disso fez-se santa. Numa palavra, persuadamo-nos do que diz o Apóstolo: Deus
é fiel e não permitirá sejais tentados mais do que podem as vossas
forças; antes fará que tireis proveito da tentação, para que possais
resistir.
Ó Jesus
meu Redentor, espero pelos méritos de vosso sangue que já me tereis
perdoado as ofensas que Vos tenho feito; espero ir dar-Vos graças para
sempre no paraíso. Vejo que pelo passado desgraçadamente caí e tornei a
cair, não tanto pela força das tentações, mas porque me descuidei de Vos
pedir a santa perseverança. Esta perseverança Vos peço agora: Ne permittas me separari a te – “Não permitais que me separe de Vós.”
— Assim o proponho e prometo. Mas de que me servirá esta minha promessa
se me não derdes a graça de recorrer a Vós? Ah! Pelos merecimentos de
vossa Paixão, concedei-me a graça de sempre me recomendar a Vós em todas
as minhas necessidades. — Maria, minha Rainha e minha Mãe, pelo muito
que me amais a Jesus Cristo, rogo-vos que me alcanceis a graça de sempre
recorrer a vosso Filho e a vós por toda a minha vida. (*I 838.)
- Rom. 7, 24.
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III – Santo Afonso
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