terça-feira, 13 de setembro de 2016

Benefícios de socorrer as santas almas


— Socorrendo as almas do Purgatório, praticamos a caridade em toda a sua extensão. «A devoção às almas do Purgatório, diz S. Francisco de Sales, encerra todas as obras de misericórdia, cuja prática, elevada ao sobrenatural pelo espírito de fé, nos há de merecer o Céu.»
Descer ao meio desses fogos devoradores, levar às almas prostradas em seu leito de chamas a esmola de nossas orações, não é, de algum modo, visitar os enfermos.
Não é dar de beber aos que têm sede, chover o doce orvalho de graça celeste sobre as almas que ardem na sede de ver a Deus face a face? Adiantar para elas o momento em que hão de entrar na posse da bem aventurança, do Céu, de Deus, do qual estão mais famintas do que o mendigo o está do pedaço de pão que lhe estendemos: é, em verdade, alimentar os que nos pedem de comer.

Nós remimos cativos, pagando o resgate das santas almas prisioneiras da justiça divina, despedaçando as cadeias que as retêm longe do Céu, e que cadeias!

Vestimos com magnificência os que estão nus, abrindo, com a nossa penitência, aos mortos a mansão de glória em que o Senhor lhes tem preparado uma túnica de luz de eternos esplendores. Que admirável hospitalidade exercemos, introduzindo-as na Jerusalém celeste, na cidade triunfante dos espíritos bem aventurados! Poderíamos acaso comparar o mérito do sepultar corpos dados em pasto aos vermes, com a inapreciável felicidade de fazer subir ao Céu almas imortais?»
Sufragando as almas do Purgatório, exercitamos a gratidão. Certamente não são estranhos aos que imploram socorro, são os nossos: pai, mãe, amigos... Esses corações dedicados que outrora tanto trabalharam e sofreram, que, por nossa causa talvez — por nos amarem com excesso, —cometeram essas faltas, em cuja expiação sofrem agora; — esses corações que muitas vezes ferimos com a nossa indiferença, com as nossas queixas, com recriminações mesmo: hoje que não palpitam mais na terra, não é verdade que sentimos remorsos de não lhes haver testemunhado bastante a nossa afeição? Pois bem, nós podemos reparar tudo, orando por eles! Muitas vezes os deixamos sós: vamos pensar neles; muitas vezes lhes desobedecemos: escutemos suas súplicas e façamos por eles tudo o que nos pedem; — faltamos-lhes à complacência e à afabilidade, preferimos nosso prazer à sua felicidade: privemo-nos de alguns momentos de distração para consagrá-los a orar por eles. Ó meus queridos mortos, sereis contentes daquele que tanto se arrepende de vos haver penalizado na terra: eu volo prometo.
O serviço que prestamos a nós mesmos com essa devoção:

1º. Adquirimos um protetor certo no Céu.
A alma que nossas orações tiverem libertado, contraiu para conosco, só pelo fato de seu resgate, uma

estrita obrigação de reconhecimento; primeiro, diz o padre Faber, pela glória da qual lhe antecipamos a hora; depois, em razão dos horríveis sofrimentos aos quais a arrancamos; assim, é para ela um dever obter-nos incessantes graças e bênçãos. No Céu também se ama e se é reconhecido! E não é somente essa alma que fica reconhecida, é seu anjo da guarda também, é a Santíssima Virgem a quem essa alma era consagrada, é o próprio Jesus que a nossas orações deve o glorificá-la mais cedo. — E o anjo da guarda, e Maria e Jesus, também eles nos testemunham sua alegria com benefícios novos.

2º. — Constituímos no Céu um representante nosso que, em nosso nome, adora, louva e glorifica o Senhor.
Aquele que serve a Deus na terra, nunca está satisfeito; não sabe, não pode amar como deseja e sente a necessidade de fazê- lo; mas, se libertou uma alma do Purgatório, oh que alegria, que consolação a de poder dizer: Uma alma santa que ama perfeitamente a Deus, foi amá-lo por mim; e, enquanto eu estou na terra ocupado, nas funções e trabalhos da vida, talvez até esquecendo-me de Deus, lá no Céu ela, talvez muitas, sem interromperem um só momento seu cântico de amor indizível, adoram, glorificam a majestade e a beleza do Altíssimo, e fazem-no em meu nome!

3º. — Constituímos protetores nossos as almas por quem oramos. 
O ensino comum dos teólogos é que, não podendo as almas do Purgatório orar eficazmente por si, podem, todavia, alcançar graças para nós, «São santas, diz Suarez, caras a Deus; a caridade leva-as a nos amar... Por que não intercederão conosco, mesmo quando expiam por si? É o que se dá conosco sobre a terra, pois que, embora devedores em relação a Deus, não hesitamos nunca em rogar pelo próximo.»

Mês das almas do purgatório - Mons. Dr. José Basilio Pereira - 10.a EDIÇÃO 1943

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