sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

VII - QUAIS SÃO OS MAUS ESCRUPULOSOS


CAPITULO VII - QUAIS SÃO OS MAUS ESCRUPULOSOS

Digamos uma palavra deste gênero de escrupulosos, a fim de completar a maté­ria e estabelecer as distinções necessárias.

Embora a maioria dos escrúpulos prove­nham do demônio, pode-se dizer que os maus escrupulosos são mais particular­mente obra dele. São todos aqueles que fazem da piedade uma idéia falsa, ou que dela se servem para ocultar aos outros e a si mesmos vícios grosseiros de que não se querem corrigir. Consoante os autores da Ciência do confessor, podem-se redu­zir a duas espécies de escrupulosos todos esses de que queremos falar: uns, que não passam lá muito da linha do pecado ve­nial; outros, que engolem a iniquidade como água, e que merecem antes o nome de hipócritas do que o de escrupulosos.
Os primeiros não passam, ordinariamente, de gente que, seja por ignorância dos seus deveres, seja por cegueira voluntá­ria ou por amor-próprio, formam uma fal­sa consciência, e são escrupulosos em ex­cesso sobre certos pontos, ao passo que so­bre outras importantíssimos, como paixões, inveja, vingança, ódio, maledicência, etc., não se fazem censura alguma e não sen­tem nenhum remorso.

Os segundos são os que, como os Fari­seus de que fala o Evangelho, fazem es­crúpulo de cometer pequenas faltas ou de faltar a certas práticas de pura devoção, ao passo que não fazem nenhum escrú­pulo de viver em pecado mortal, e aban­donam-se mesmo aos desregramentos mais vergonhosos.

Deve o confessor ser mais atento a des­cobrir a boa ou má fé dessas espécies de escrupulosos, pois não pode tratar com êxi­to a doença deles sem conhecê-la bem; porém um dos sinais mais característicos das falsas devoções é a indocilidade, a teimosia, o apego obstinado ao próprio senso. Deve ele pois, experimentá-los so­bre este ponto. Deve examinar com cuida­do se eles cumprem os deveres do seu es­tado, se os conhecem, se observam o pre­ceito do amor do próximo, o perdão das injúrias, etc.; pois é nisto que se reconhe­ce infalivelmente o caráter da devoção deles, e se há no caso bom ou mau es­crúpulo. Uma vez feita esta investigação, convém agir com prudência, com tato, mas também com firmeza. Cumpre instruí-los, tirar-lhes as ilusões, volver-lhes o temor para aquilo que é realmente pecado; mantê-los afastados da comunhão até que a falsa consciência desapareça e que a conduta se torne mais regular e mais cons­tante.

Quanto aos escrupulosos hipócritas ou que caem em grandes excessos, é urgente abrir-lhes os olhos sobre a enormidade dos pecados a que estão habituados, so­bre os perigos do seu estado, forçá-los a converter-se. Eles precisarão de uma con­fissão geral, coisa de que os outros escru­pulosos podem talvez prescindir. Uma vez bem feita a confissão, segundo as circuns­tâncias, uma vez assegurada a conversão deles, ou ao menos presumida sincera, se os escrúpulos não passarem trabalhar-se-á na cura deles como na dos bons escrupu­losos. Enfim, regra geral, cumpre esfor­çar-se por desarraigar essas falsas devo­ções, destruir as falsas consciências, re­conduzir aos verdadeiros princípios da re­ligião e da piedade, porque nada faz mais mal, quer à religião quer à edificação do próximo, do que os maus escrupulosos.

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