quarta-feira, 2 de novembro de 2016

II Meditação - Estado do purgatório


I. Ainda que o Senhor possa fazer suportar às almas dos defuntos as penas que mereceram pelos seus pecados, no lugar onde ele quiser, há contudo um lugar especial, chamado propriamente purgatório, onde de ordinário são detidas em grandes sofrimentos as almas, que não estão assaz puras para o céu. Chamam-lhe lugar inferior, poço profundo, mar tempestuoso, terra de trevas e misérias, de turbilhões e obscuridade. Que horror deve fazer nascer em nosso espírito o pensar nesta temerosa prisão aberta pela justiça celeste, e que compaixão pelas almas, que nela suportam a sua punição !

II. Mas que penas se sofrem no purgatório? Os Santos Padres e os Doutores respondem Comumente que são as mesmas que no inferno. Não há diferença alguma, diz Sto. Tomaz, entre o fogo do inferno e o do purgatório. O mesmo fogo, nota Santo Agostinho, consome a palha e purifica o ouro. Nas mesmas chamas, ajunta S. Gregório, encontra o condenado o seu suplicio e o justo sua purificação. Ora, se o inferno é a mais terrível pena, que a cólera divina destinou às criaturas rebeldes, consideremos a dor que sentem as almas do purgatório, vendo-se cercadas e penetradas daquele mesmo vingador elemento que faz o eterno desespero dos precitos.

III. Há diferença, é verdade, entre as penas dos condenados e as das almas do purgatório.As primeiras sofrem penas eternas e as segundas, temporárias. O condenado, apenas entra no inferno, perde logo a esperança de tornar a sair dele. Não há redenção nem salvação para aquele que abusou até ao último momento da salvação e redenção, que he adquirira o precioso sangue de Jesus Cristo. As almas do purgatório, estando na graça do Redentor, estão certas da sua salvação eterna. Sairão infalivelmente do purgatório, mas ser-lhes-á preciso pagar antes, até ao derradeiro ceitil, a dívida que as culpas da sua vida lhe fizeram contrair com a justiça divina. E quando chegarão elas a satisfazê-la plenamente? Umas mais cedo, outras mais tarde, conforme a qualidade das faltas e a quantidade das penas que lhes correspondem; os teólogos nos dizem que algumas não sairão daquela dolorosa prisão, sem chegar o dia do juízo final. Oh ! Que sofrer tão longo ! Oh ! quão caro nos custa o pecado ! Evitemos, pois, com cuidado o come tê-lo, e se já caímos nele, apressemo-nos a expiá-lo nesta vida, para não termos de pagá-lo depois da morte.

Súplica

Dai-nos, grande Deus, pela vossa graça, força para fugir de todo pecado, ou ao menos para detestá-lo nesta vida. A terrível prisão do purgatório, os tormentos, que nele se sofrem, a duração de tão longa pena, são outros tantos poderosos motivos, que nos. fazem conceber profundo horror ao pecado',e que, penetrando-nos até ao in ti mo do coração, nos constrangem a não desprezar coisa alguma para socorrer as benditas almas. Volvei, pois, para elas, ó Senhor, um olhar de bondade, e, por vossa grande misericórdia, ponde fim prontamente às suas dores. Que os seus tormentos cedam o lugar à glória, que elas troquem a sua prisão pelos vossos celestes palácios, onde poderão adorar-vos e bendizer-vos eternamente.

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