I. A morte é certa; o decreto está lavrado, todos os homens devem morrer. Qualquer outra desgraça se pode evitar, mas nunca a morte. Nada nos pode isentar dela nem a idade, nem a condição, nem o sexo, nem socorro algum humano. Desde o primeiro até ao último dos homens, todos verão o termo dos seus dias; muitos já chegaram a ele, outros aproximam-se-lhe, e todos, como água que corre, cairemos irremissivelmente no sepulcro . E todavia que faremos nós, cristãos ?
Preparamo-nos acaso para o fim inevitável que nos espera ? Oh ! quanto a morte nos parecerá amarga, se nos não dispomos a tempo para recebê-la !
Quando alguém morre, parte deste mundo para entrar na outra vida, e quem encontraremos nessa outra vida? A fé ensina-nos que há um paraíso, um inferno, um purgatório. As almas perfeitas, que não têm culpas a expiar nem penas a sofrer, sobem imediatamente, ao saírem do corpo, a gozar da felicidade no paraíso. As almas carregadas de pecados mortais, são arrastadas pelo peso de suas iniquidades ao inferno, onde a justiça divina lhes faz suportar a punição merecida. Oh ! que diferença entre umas e outras ! As primeiras eternamente felizes com Deus; as segundas eternamente condenadas com os demônios ! Qual destas situações nos parece preferível? A escolha depende de nós. Se desejamos ir para o paraíso com os justos, vivamos como os justos, na justiça ; se o inferno nos faz horror, fujamos do pecado, que conduz a ele.
Se a alma , surpreende pela morte, não está em pecado mortal, nem em perfeita justiça, mas num estado, por assim dizer, entre os dois casos, e por isso nem suficientemente culpável para ser condenada ao inferno, nem tão perfeita que possa entrar na glória do paraíso, para onde irá? É forçoso que haja um lugar intermediário, um lugar de passagem, onde as almas dos defuntos se purifiquem de suas manchas, como o ouro na fornalha, tornando-se dignas do paraíso. Ora, é neste lugar que cai a maior parte das almas, que se salvam, como bem poucas conseguem evita-lo, porque bem poucas saem deste mundo, sem levarem dele alguma poeira! Queremos ser disso isentos? Purifiquemo-
nos perfeitamente nesta vida, porque aquele que a deixa sem mancha vai diretamente para o céu.
Súplica
O' Deus ! como deve assustar-nos o que se passa logo após a morte. Ou o céu, ou o purgatório, ou o inferno ! Temos de escolher nesta vida morrer como amigo ou como inimigo de Deus . Atendei, ó grande Deus , às nossas súplicas ; fechai para todos os fiéis as portas do infernal abismo, abri-lhe as da gloriosa bem-aventurança. Libertai as almas, que se acham no purgatório, e chamai-as a gozar convosco da imortal coroa da felicidade eterna.
EXEMPLO
Morreu na diocese de Nocera ( Itália) um moço que professava singular devoção a são Bernardino de Sena; este, para recompensá-lo, obteve o torná-lo à vida. Mas quis primeiro
fazer-lhe conhecer as coisas do outro mundo, e levando-o consigo, conduziu-o as regiões infernais.
Alí, em turbilhões de espesso fumo e de fogo devorador, lhe fez ver uma multidão infinita de condenados, qne um desespero eterno devorava. Transportou-o, em seguida, ao céu, onde em adimiravel ordem os coros dos anjos e as cortes dos santos gozavam de uma felicidade acima de quanto se pode imaginar.
E finalmente mostrou-lhe a pnsao do purgatório, onde em meio de ardentes chamas se purificavam as almas dos defuntos até que se tornassem dignas ele entrar na glória do céu. Com profunda comoção viu ele aquelas almas agruparem-se em torno dele, pedindo-lhe que descrevesse aos homens, na sua
volta para o mundo, os horrorosos tormentos, que elas suportavam, e que os excitasse a aliviá-las por abundantes sufrágios ; o que ele fez com grande vantagem dos pobres penitentes, porque tomando à vida, a todos falava do purgatório : "Teu pai, dizia ele a um, está entre as chamas vingadoras e espera os efeitos da tua piedade filial ; teu filho, dizia a outro, recomenda-se ao teu amor paternal ; teu benfeitor, ingrato herdeiro, perde-te que executes as suas piedosas disposições; todas estas almas, em uma palavra, recorrem à vossa fé, à vossa caridade, para obterem pron to e poderoso alívio". Imagine-
mos escutar hoje as mesmas exortações, e demos manifestas provas de nossa devoção pelo purgatório. (S. Franciscus, Beartius, soe. Jesn contin. Bolland. in Act. sant. in append. ud 20 maii).
SUFRAGIO
Para conservarmos as nossas relações com os defuntos, apliquemo-nos a orar por eles, rezando principalmente o De profundis.
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