Estamos no mundo não para entesourar riquezas nem para obter dignidades, nem para grangear celebridade; mas unicamente para amar a Deus. O amor de Deus é aquela única coisa necessária da qual São Lucas, e tudo quanto não se faz para este fim, é perder o tempo.
Eis porque Jesus Cristo respondeu ao fariseu que lhe perguntou qual era o preceito fundamental da lei: Este é o máximo e o primeiro mandamento: Amarás ao Senhor teu Deus. - Diliges Dominum Deum tuum. - E explicando depois a maneira como o devemos amar, acrescenta: Ama-lo-ás de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Como observa Santo Agostinho, estas três palavras significam que nenhuma parte de nossa vida ficou deixada a nosso alvedrio, e não nos é mais lícito por-nos o nosso fato em qualquer outra coisa que não seja Deus.
Devemos, pois, amar o Senhor com amor de preferência, isto é, preferi-lo a todas as coisas e estar prontos a perder antes a vida do que a graça divina. Com amor de benevolência, desejando ve-lo amado de todos e pedindo ao Senhor pela conversão de todos aqueles que não o amam. Com amor doloroso, detestando os nossos pecados, não tanto por termos perdido o céu e merecido o inferno, como por termos perdido o céu e merecido o inverno, como por termos ofendido ao Senhor que é a bondade infinita. Com amor de conformidade com a vontade divina, oferecendo-nos muitas vezes a Deus afim de que disponha de nós segundo a sua vontade. Devemos finalmente amar o Senhor com amor paciente, não nos importando mais nem com as ignominias, nem com os sofrimentos, desejando mesmo sofrer e ser humilhados por amor de Jesus Cristo. É este o amor forte que dá a conhecer os verdadeiros amantes de Deus. Feliz que o possui!
Quem ama a Deus, amará necessariamente também a seu próximo, porquanto, no dizer de São Gregório, estes dois amores estão de tal modo unidos, que o segundo nasce do primeiro, e o primeiro alimenta-se do segundo. E acrescenta que um abrange o outro, pois que são dois elos da mesma cadeia; dois atos de uma mesma virtude, dois títulos de mérito diante de Deus, que se encontram sempre acompanhadas um do outro.
Eis porque o Senhor, no Evangelho de hoje, depois de explicar o máximo e primeiro mandamento do amor para com Deus, logo acrescenta, mesmo sem ser perguntado: "O segundo é semelhante ao primeiro; amarás o teu próximo como a ti mesmo.". E conclui com estas palavras: "Nestes dois mandamentos está encerrada toda a lei e os profetas." Como se dissesse que a estes dois mandamentos do amor se referem a todos os demais, e que quem observa aqueles guarda também estes. Para que alguém saiba se ama a Deus, e a que grau de perfeição tenha chegado, basta que examine de que modo ama a seu próximo.
Meu Deus, amo-Vos de todo o meu coração sobre todas as coisas, porque sois infinitamente bom e digno de ser amado. Por amor de Vós amo também a meu próximo como a mim mesmo. Do fundo do meu coração arrependo-me de todos os meus pecados, e detesto-os porque Vos ofendi, ó bondade infinita. Proponho antes morrer do que ofender-Vos. - Mas Vós, ó meu Senhor, ajudai-me com a vossa graça, que Vos peço me concedais agora e sempre; e fazei que eu evite os contágios diabólicos e continue a servir com pureza de alma a Vós, que sois meu Deis. Doce Coração de Maria, sede a minha salvação.
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