Sumário. O Rei do céu deseja
sumamente enriquecer-nos das suas graças; mas como da nossa parte é
necessária a confiança, afim de aumentá-la em nós, nos deu por Mãe e
Advogada a sua própria Mãe, a quem deu todo o poder para nos ajudar. Por
isso quer o Senhor que nela ponhamos a esperança de nossa salvação e de
todo o nosso bem. Qual não deve, pois, ser nossa gratidão para com a
bondade divina! qual a confiança que devemos ter em Maria!
I. De dois modos, diz Santo Tomás,
podemos pôr a nossa esperança numa pessoa: como causa principal, ou
como causa intermediária. Quem espera alguma graça do rei, espera
alcançá-la do rei como senhor; ou espera alcançá-la do seu ministro ou
valido, como intercessor. Se consegue a graça, consegue-a principalmente
do rei, mas por intermédio do ministro. Pelo que, quem pretende obter a
graça, tem razão de chamar àquele intercessor a sua esperança.
O Rei do céu, por ser a bondade infinita, deseja
sumamente enriquecer-nos de suas graças; mas como da nossa parte é
necessária a confiança, e com o fim de aumentá-la em nós, deu-nos por
Mãe e Advogada sua própria Mãe, a quem deu todo o poder para nos ajudar.
Por isso quer que ponhamos nela a esperança de nossa salvação e de todo
o nosso bem. ― Aqueles que põem a sua esperança unicamente nas
criaturas, independentemente de Deus, são sem dúvida amaldiçoados de
Deus, como diz Isaías[1]. Mas aqueles que
esperam em Maria, como Mãe de Deus, poderosa para lhes alcançar as
graças e a vida eterna, são bem-aventurados e agradam ao Coração de
Deus, que assim que ver honrada a excelsa criatura que mais que todos os
homens e anjos o amou e honrou neste mundo.
É, pois, com razão que chamamos à Virgem a nossa
esperança, esperando alcançar por sua intercessão o que não
alcançaríamos só com as nossas orações. Oh, quantos soberbos, com a
devoção a Maria, acharam a humildade! quantos iracundos a mansidão!
quantos cegos a vista! quantos desesperados a confiança! quantos
perdidos a salvação! Numa palavra, afirma Santo Antonino que todo
verdadeiro devoto de Maria pode dizer: Venerunt mihi omnia bona pariter cum illa (Sab 7, 11) ― «Com a devoção a Maria vieram-me juntamente todos os bens».
II. É com razão que a santa Igreja aplica a Maria as palavras do Eclesiástico, chamando-a Mãe da santa esperança, Mater sanctae spei; e quer que quotidianamente todos os eclesiásticos e todos os religiosos, na egrégia oração da Salve Rainha,
levantem a voz e em nome de todos os fieis invoquem e chamem a Maria
com este doce nome de esperança nossa. ― Tu também, meu irmão, seja qual
for o teu estado, põe toda a tua confiança nesta Mãe amorosíssima e
dize-lhe frequentemente: Spes nostra, salve: Esperança nossa, salve!
Ó Mãe do santo amor, sabeis que, não contente de se
fazer nosso perpétuo advogado junto do Pai Eterno, Jesus Cristo vosso
Filho quer ainda que vós mesma intercedais junto dele, para nos obter as
divinas misericórdias. Decretou que vossas orações nos ajudariam a
salvar, e lhes deu tanta eficácia que são sempre atendidas. Dirijo-me
então a vós, ó esperança dos miseráveis. Pelos merecimentos de Jesus
Cristo e por vossa intercessão espero salvar a minha alma. Tal é minha
esperança, e tão longe vai que, se minha salvação eterna estivesse nas
minhas mãos, logo iria depô-la nas vossa, porque mais me fio de vossa
misericórdia e proteção que em todas as minhas obras.
Ó minha Mãe e minha esperança, não me desampareis
como o merecia. Confesso que, assaz de vezes, meus pecados puseram
obstáculo às luzes e aos socorros que me obtínheis de Deus. Mas vossa
compaixão para com os miseráveis e vosso poder junto de Deus transcendem
o número e a malícia de minhas iniquidades. O céu e a terra sabem que
não é possível que se perca quem é vosso protegido. Esqueçam-se, pois,
de mim todas as criaturas, mas vós nunca. Dizei a Deus que sou vosso
servo, dizei-lhe que tomais minha defesa, e salvo serei. ― Ó Maria,
confio-me a vós; e na vida e na morte proclamarei sempre que sois toda a
minha esperança depois de Jesus. Nesta esperança quero viver e morrer.
(*I 51.)
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[1] Is 30, 2.
Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para
todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Terceiro: desde a duodécima semana
depois de Pentecostes até ao fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p.113-115.
"Deus Pai juntou todas as águas; e chamou-lhes mar; juntou todas as graças, e chamou-lhes Maria." (São Luís Maria Grignion de Montfort)
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