quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A ressurreição dos corpos no dia do Juízo, por Santo Afonso de Ligório



Ecce mysterium vobis dico: Omnes quidem resurgemus, sed non omnes immutabimur - Eis que vos digo um mistério: todos certamente ressuscitaremos, mas nem todos seremos mudados. (1 Cor. 15,51)

    O Juízo final será precedido do fogo do céu, que devorará a terra e todos os homens que então viverem: Terra et quae in ipsa sunt opera exurentur - A terra será presa do fogo, com todas as obras que nela se contem. Palácios, campos, cidades, reinos, tudo deverá ser reduzido a um montão de cinzas. É preciso que esta infeccionada habitação dos pecados seja purificada pelo fogo. Eis como deve ser o fim de todos as riquezas, pompas e delícias deste mundo. - Mortos todos os homens, a trombeta soará e todos ressuscitarão: Canet enim tuba, et mortui resurgent. Dizia São Jeronymo: "Todas ás vezes que penso no dia do Juízo, tremo pelo corpo todo; julgo ouvir a cada instante esta terrível trombeta: Ressuscitai, ó mortos, vinde ao juízo."

    Ao som desta trombeta as almas gloriosas dos bem-aventurados descerão do céu, para se unirem aos corpos, com que serviram a  Deus nesta vida; e as amas infelizes dos condenados subirão do inferno para se unirem aos corpos malditos, com que ofenderam a Deus. - Oh! Que diferença haverá então entre os corpos dos bem-aventurados puros, resplandecentes como o sol: Tunc fulgebunt iusti sicut sol. Feliz de quem nesta vida sabe mortificar a carne, recusando-lhe os prazeres proibidos, ou, para a refrear mais, lhe recusa até os gozos permitidos, como fizeram os santos! Como estará então contem por ter vivido assim como um São Pedro de Alcantara, que depois da morte disse a Santa Teresa: " Feliz penitência que tamanha glória me alcançou."
    Os corpos dos réprobos, ao contrário, serão horrendos, negros e sauseabundos, quais tições do inferno. Que suplício então para o condenado o dever de unir-se ao corpo! Corpo maldito, dirá a alma, foi para te contentar que me perdi. E o corpo dirá: Ama maldita, que tinhas a razão por fanal, porque me concedeste essas satisfações, que foram a causa da minha perdição e da tua, por toda a eternidade? - Portanto, meu irmão, se por desgraça te perderes, a alma e o corpo que agora conspiram na busca de prazeres proibidos, unir-se-ão a força nesse dia, para se servirem mutuamente de algozes, para sempre.
    Assim terminará a cena deste mundo. Terminarão todas as grandezas, os prazeres e as pompas da terra: tudo está terminado. Só restarão duas eternidades: uma de glória, outra de sofrimento; uma feliz, outra infeliz; uma de gozos e de tormentos; no céu estarão os justos; os pecadores no inferno. Infeliz de quem tiver amado o mundo e perdido tudo, a alma, o corpo, o céu e Deus, pelas satisfações miseráveis desta terra.
    Meu Jesus e meu Redentor, Vós, que um dia deveis ser meu Juiz, perdoai-me, antes que chegue neste dia. Ne averias faciem tuam a me. - Não afasteis de mim a vossa face, não me repilais, como merecia. Lembrai-Vos do sangue que derramastes por mim, e tende piedade de mim.
    Meu Pai, Amo-Vos e não mais me quero afastar de Vós. Esquecei as injúrias que Vos fiz, e dai-me um grande amor para com a vossa bondade. Desejo amar-Vos mais do que Vos ofendi; mas, sem vosso auxilio, não Vos posso amar. Ajudai-me, meu Jesus: fazei-me viver grato ao vosso amor, pra que nesse dia eu seja, no vale do juízo, do número de vossos amigos. - Ó Maria, minha Rainha e minha Advogada, socorrei-me agora; porque se vier a perder-me, não me podereis mais valer nesse dia. Vós orais por todos, orai também por mim, que me prezo de ser vosso servo devoto e tanta confiança deposito em vós.

Meditações de Santo Afonso Maria de Ligório, Tomo III.

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