"Desde que me mandaram fazer estas tais provas e resistir, foi muito maior o crescimento das mercês. Em me querendo distrair, nunca saía de oração; até dormindo me parecia que estava nela. Então cresciam o amor e as queixas que eu fazia ao Senhor, pois não o podia sofrer; nem estava na minha mão deixar de pensar n’Ele, por mais que eu quisesse e por mais que me esforçasse. Contudo, obedecia quando podia, mas nisto pouco ou nada podia e o Senhor nunca me dispensou de obedecer. Mas, ainda que me dizia para o fazer, assegurava-me, por outro lado, e ensinava-me o que lhes havia de dizer, e assim ainda o faz agora. Dava-me razões tão fortes que a mim me incutiam inteira segurança.
Dentro de pouco tempo começou Sua Majestade, como mo tinha prometido, a mostrar mais claramente que era Ele, crescendo em mim um amor tão grande de Deus que não sabia quem mo infundia, porque era muito sobrenatural, nem eu o procurava. Via-me morrer com desejo de ver a Deus e não sabia aonde havia de buscar esta vida, a não ser com a morte. Davam-me uns ímpetos tão grandes deste amor que, embora não fossem tão insofríveis como os que já de outra vez tenho dito, nem de tanto valor, eu não sabia que fazer de mim. Nada me satisfazia, nem eu cabia em mim, senão que verdadeiramente me parecia que se me arrancava a alma. Oh! artifício soberano do Senhor! De que indústria tão delicada usáveis para com a Vossa escrava miserável! Escondíeis-Vos de mim e apertáveis-me com Vosso amor, com uma morte tão saborosa que nunca a alma quereria sair dela.
Os dias que isto durava, andava como alheada; não queria ver nem falar, senão abraçar-me com a minha pena, que era para mim maior glória que quantas há em tudo o criado.
Isto me acontecia algumas vezes, quando quis o Senhor que me viessem estes arroubamentos tão grandes que, até mesmo estando entre muitas pessoas, não lhes podia resistir, e assim, com muita pena minha, se começaram a divulgar."
Retirado do Livro da Vida de Santa Teresa de Jesus
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