Para despertar-nos ele quis então que víssemos quanto nos amava. Isto não uma vez, mas, todos os dias. Resolveu então ficar para sempre conosco.
Sendo coisa de tal gravidade e de tanta importância, quis o bom Jesus que essa graça nos fosse concedida pela mão do eterno Pai. Ele sabia muito bem que seu Pai não deixaria de confirmar e aprovar no céu o que ele fizesse na terra.
O Pai e o Filho entrei si são ambos uma só e mesma coisa. A vontade de um é a vontade do outro. Contudo era tão profunda a humildade do Filho que, por assim dizer, quis primeiro pedir licença a seu Pai, embora soubesse que era o objeto do seu amor e de sua complacência.
Entendeu perfeitamente que nesta súplica pedia mais do que em todas as outras, porque antevia a morte que o esperava e as desonras e afrontas que havia de padecer.
Que Pai haveria, Senhor, que tendo-nos dado seu Filho - e que Filho! - e vendo o estado em que o pusemos, consentiria em deixá-lo entre nós a padecer de novo cada dia? Por certo nenhum, Senhor, senão o vosso Pai, e bem sabeis a quem pedis! Valha-me Deus! Que grande amor o do Filho, e que grande amor o do Pai!
Todavia já não me adirmo tanto do bom Jesus. Tendo dito: faça-se a vossa vontade, e não sendo como nós, gavia de cumprir a palavra de modo digno de quem é, com a perfeição de um Deus.
Sabia que devia amar-nos como a si mesmo para cumprir a vontade de seu Pai. Assim andava buscando um meio, para cumprir este mandamento com a maior perfeição, embora muito à sua custa.
Porém vós, Pai Eterno,c omo consentistes? Por que motivo quereis ver vosso Filho cada dia em mãos tão indignas quanto as nossas? Por uma vez que assim quisestes e consentistes a seu pedido, bem vistes o estado em que o deixaram,
Como pode vossa piedade presenciar diariamente - sim, diariamente - as injúrias que lhe fazem? E quantas não se devem hoje assacar a este Santíssimo Sacramento! Em quantas mãos inimigas não se vê o Pai! Quantos desacatos por parte desses hereges!
Ó eterno Senhor! Como admitis tal petição? Porque dais vosso consentimento? Não vos guieis pelo amor de vosso Filho! A troco de realizar plenamente vossa vontade e de nos fazer benefícios, ele se deixará despedaçar cada dia!
Toca a vós, Senhor meu, providenciar o que é justo. A vosso Filho nada parece demasiado. Porque razão todo o nosso bem há de ser à sua custa? A tudo cala, não sabe falar por si, senão só por nós - não haverá quem fale em defesa desse amantíssimo Cordeiro?
Não há escravo que de boa vontade confesse que o é; e eis que bom Jesus parece gloriar-se de o ser. Isto vos enterneça o coração, minhas filhas, e vos mova a amar sempre mais o vosso Esposo.
O eterno Pai! Por certo, bem meritória é esta humildade! Com que tesouro compraremos vosso Filho! Já sabemos que foi vendido por trinta dinheiros, mas para comprá-lo não há preço que baste!
Nesta oração (Padre nosso) faz-se uma só coisa conosco pela participação de nossa natureza. Como o senhor e árbitro de sua vontade, faz ver a seu Pai que sendo ele dono de sua própria vontade, quer dar-se a nós. Assim diz: o pão nosso.
Não faz diferença alguma entre ele mesmo e nós. Entretanto diariamente nós o fazemos em demasia para não nos darmos cada dia por Sua Majestade.
Retirado do livro: Caminho de perfeição de Santa Teresa D'Ávila.
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