Meditação - 25/09/2015 - Sexta-Feira - O Grande Livro que é o crucifixo, por Santo Afonso de Ligório.
Non iudicavi me scire aliquid inter vos, nisi Iesum Christum, et hunc crucifixum - Não entendi saber entre vós coisa alguma, senão a Jesus Cristo, e este crucifixado. (1 Cor. 2,2)
Dizia o Apóstolo São Pedro que ele não queria saber outra coisa senão Jesus, e Jesus crucificado, isto é, o amor que ele testemunhou sobre a cruz. E na verdade, em que livros poderemos melhor estudar a ciência dos santos, que é a ciência de amar a Deus, senão em Jesus crucificado? O grande servo de Deus Frei Bernardo de Corlione, capuchinho, não sabendo ler, queriam os religiosos, seus irmãos, ensina-lo. Foi primeiro tomar conselho com o Crucifixo; mas Jesus lhe respondeu da cruz: "Que, livros! Que, leituras! Eu é que sou o teu livro, no qual podes sempre ler o amor que tenho tido!" Oh, que grande assunto para meditação por toda a vida e por toda a eternidade: um Deus morto por nosso amor! Um Deus morto por nosso amor! Oh, que grande assunto!
Um dia Santo Tomás de Aquino visitando a São Boaventura perguntou-lhe de que livros tinha feito mais uso para consignar em suas obras tão belos conceitos. São Boaventura mostrou-lhe a imagem de Jesus crucificado, toda enegrecida pelos beijos que lhe dera, dizendo: "Eis aqui o livro que me fornece tudo o que escrevo; é ele que me ensinou o pouco que sei." Jesus crucificado foi também o livro predileto de São Felipe Benicio, que teve a fortuna de exalar a sua alma bendita enquanto beijava aquelas chagas sagradas. Numa palavra, foi no estudo do crucifixo que os santos aprenderam a arte de amar a Deus e de por amor dele sofrer as tribulações, os tormentos, os martírios e a morte mais cruel.
Tinha, pois, Santo Agostinho razão para escrever que o lenho da cruz serviu a Jesus Cristo, não só de patíbulo, para nele operar a nossa redenção, mas também de cátedra para nos ensinar as mais sublimes virtudes. - Por isto, o Santo, arrebatado pelo amor a vista de Nosso Senhor coberto de chagas sobre a cruz, fazia esta terna oração: Gravai, ó meu amantíssimo Salvador, gravai as vossas chagas em meu coração, afim de que nelas leia sempre a vossa dor e o vosso amor. Sim, porque, tendo diante dos olhos a grande dor, que Vós, meu Deus, padecestes por mim sofrerei em paz todas as penas que me possam acontecer. e á vista do amor que me tendes patenteado na cruz, não amarei nem poderei amar senão a Vós.
Eis, pois, aí o nosso grande livro: Jesus Crucificado! Se o estudarmos a miúde; porquanto, no dizer de Santo Tomas, ao mesmo tempo que nele acharemos auxílio seguro contra todas as tentações, aprenderemos a praticar a obediência a Deus, a caridade para com o próximo, e a paciência nas adversidades. Mas nele, sobretudo, aprenderemos a temer o pecado e a amar a Jesus Cristo com todas as nossas forças; pois nessas chagas leremos de uma parte a malícia do pecado que constrangeu um Deus a sofrer tão amargosa morte para satisfazer a divina justiça; e da outra o amor que o Salvador nos mostrou querendo sofrer tanto afim de nos fazer compreender o quanto nos amava.
Procuremos, portanto, ter uma linda imagem de Jesus crucificado, coloquemo-la em nosso quarto, e olhando para ela frequentemente, mesmo entre os nossos estudos e trabalhos, façamos com afeto alguma oração jaculatória e particularmente esta: + Meu Jesus, misericórdia! O Senhor revelou a Santa Gertrudes, que todo o que olha com devoção o Crucifixo, será de cada vez recompensado com um olhar amoroso de Jesus.
Ah, meu Jesus! Quem não Vos há de amar, reconhecendo-Vos pelo Deus que sois e contemplando-Vos na cruz? Oh! Que setas de amor arremessais as almas do alto da cruz! Quantos corações tendes atraído a Vós lá do trono de amor! Ó chagas de meu Jesus, ó belas fornalhas de amor, deixa-me entrar em Vós afim de ser consumido pelo amor de meu Deus, que quis morrer por mim, consumido de tormentos. - Ó minha dolorosa Mãe, Maria, ajudai um vosso servo que deseja a amar a Jesus.
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