sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A minha alma glorifica o Senhor


            
    Magnificat anima mea Dominum
 Esse primeiro versículo contém quatro palavras apenas, mas cheias de grandes mistérios; considere­mo-las atentamente e com espírito de humildade, res­peito e piedade, para que nos animemos a glorificar a Deus com a Bem-aventurada Virgem, pelas grandes e maravilhosas coisas que operou nEla, por Ela, para Ela e também para nós.

A minha alma glorifica o Senhor: observai que a Bem-aventurada Virgem não diz Eu glorifico, mas A minha alma glorifica o Senhor, para demonstrai que Ela O glorifica do mais íntimo do seu coração e em toda a extensão de suas potências interiores. Não O glorifica somente com os lábios e a língua, mas emprega todas as faculdades de sua alma, o enten­dimento, a memória, a vontade e todas as potências das partes superior e inferior de sua alma .
E não O glorifica somente em seu nome parti­cular, nem para satisfazer às infinitas obrigações que tem de fazê-lo por motivo dos inconcebíveis favores que recebeu de sua divina bondade; mas glorifica-O em nome de todas as criaturas e por todas as graças que Ele concebeu a todos os homens, fazendo-se homem para edificá-los e para salvar a todos, se quise­rem corresponder aos desígnios do inconcebível amor que tem por eles.
A minha alma glorifica o Senhor: qual é esta al­ma que a Bem-aventurada Virgem chama a sua al­ma? Respondo, em primeiro lugar, que acho num grande autor, o Cardeal Marcos Vigier, a opinião de que essa alma da Bem-aventurada Virgem, é o seu Filho Jesus, que é a alma de sua alma.
Em segundo lugar, respondo que essas palavras, anima mea, compreendem primeiro, a alma pró­pria e natural que anima o corpo da sagrada Vir­gem; segundo, a alma do divino Menino que Ela traz no seio, alma unida tão estreitamente à sua que ambas formam, de certo modo, uma só alma, pois a Criança que se acha em suas entranhas ma­ternais é um só com a sua Mãe. Terceiro, que es­sas palavras, anima mea, assinalam e compreendem todas as almas criadas à imagem e semelhança de Deus, que existiram, existem e existirão em todo o universo. Pois, se São Paulo nos assegura que o Pai eterno "nos deu, com seu Filho, todas as coisas", é evidente que, dando-O à sua divina Mãe, deu-lhe também todas as coisas. Razão pela qual todas as almas Lhe pertencem. E como a Virgem não ignora, e conhece também perfeitamente a sua obrigação de utilizar tudo quanto Deus Lhe deu para honrá­lO e glorificá-lO, quando pronuncia as palavras A minha alma glorifica o Senh.:x, considerando tôdas as almas que existiram, existem e existirão como almas que Lhe pertencem, Ela a todas abrange para uni-las à alma de seu Filho e à sua, e para em­pregá-las no louvor, exaltação e glorificação d'Aquê­le que desceu do Céu e Se encarnou em seu seio
virginal para operar a grande obra da Redenção.
A minha alma glorifica o Senhor: qual é este Senhor? E' o Senhor dos senhores, e o Senhor sobe­rano e universal do céu e da terra. Este Senhor é o Pai eterno, este Senhor é o Filho, este Senhor é o Espírito Santo, três Pessoas divinas que são um só Deus e Se­nhor, e que têm uma só e mesma essência, poder, sabe­doria, bondade e majestade. A Santíssima Virgem louva e glorifica o Pai eterno por havê-la associa­do a Si em sua divina paternidade, tomando-a Mãe do mesmo Filho de quem é o Pai. Ela glorifica o Filho de Deus por ter sido de sua vontade esco­lhê-IA por Mãe e ser o seu verdadeiro Filho. Glo­rifica o Espírito Santo, por ter querido realizar nEla a maior de suas obras, isto é, o mistério adorável da Encarnação. Ela glorifica o Pai, o Filho e o Es­pírito Santo pelas infinitas graças que fizeram e têm o desígnio de fazer a todo o gênero humano. 
(O MAGNIFICAT, São João Eudes)

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