sábado, 19 de setembro de 2015

Aquele que se resolve a sofrer por Deus, não padece mais, Santo Afonso de Ligório

     Aquele que se resolve a sofrer por Deus, não padece mais. Leiamos as vidas dos Santos, e vejamos como se deliciaram em sofrer. Sta. Gertrudes dizia que ela gozava tanto no padecer, que não tinha tempo mais penoso do que quando nada sofria. Sta. Teresa dizia que não tinha confiança em viver sem sofrer; por isso muitas vezes exclamava: Ou sofrer ou morrer. 
     Sta. Maria Madalena de Pazzi ia mais adiante e dizia: Sofrer sim, e não morrer. — O mártir S. Procópio dizia ao tirano que lhe aparelhava novas torturas: Atormenta-me quanto quiseres. Não sabes que aos que amam a Jesus Cristo, nada é mais agradável do que sofrer por seu amor?        S. Gordião ameaçado de cruel morte se não renegasse a Jesus Cristo, respondeu: Tenho pena de não poder morrer senão uma só vez por Jesus Cristo meu Salvador. E assim morreu intrepidamente. — Sta. Potamiana disse ao tirano que a condenava a morrer em uma caldeira de pez a ferver: Pois bem, eu te peço não me atires na caldeira de um só jato, mas a pouco e pouco, para mais sofrer por meu Jesus. Fez-lhe a vontade o tirano, e a santa virgem só perdeu a palavra quando o pez lhe chegou ao pescoço e tirou-lhe a vida. — É também célebre o martírio das virgens Fé, Esperança e Caridade que, como refere Baronio, sendo tentadas pelo tirano Antiocho com ameaças de tormentos, cheias de coragem lhe responderam: Não sabes que para os cristãos não há coisa mais aprazível que sofrer por Jesus Cristo? A Sta. Fé depois de açoitada cortaram-lhe os seios, atormentaram com fogo e depois decapitaram. A Sta. Esperança fustigaram com azorragues, dilaceraram as costas com pentes de ferro, e depois lançaram em uma caldeira de pez a ferver. Sta. Caridade era a menor, não passava de nove anos. Pelo que o tirano esperava demovê-la com o temor dos suplícios. Disse-lhe pois: Minha filha, ao menos tu deves ser prudente, e não queiras morrer atormentada como tuas irmãs. Ao que a santa menina respondeu: “Estás enganado, Antiocho; todos os tormentos não me farão jamais abandonar a Jesus Cristo”. Então, o tirano mandou suspendê-la por uma corda para torturá-la, deixando-a cair do alto muitas vezes, até deslocar-lhe todos os ossos. Depois fez perfurar todos os membros da santa criança com pontas de ferro até exalar o último suspiro, esvaída em sangue. 

    Vejamos agora outros exemplos mais modernos extraídos da história eclesiástica do Japão. Ai se refere de uma senhora casa chamada Maxencia,  que, sendo posta em tormentos, não aceitou a oferta de um dos algozes que lhe queria aliviar as penas, e continuou constante a confessar a fé. Tendo o algoz lhe chegado duas vezes a espada à garganta para atemorizá-la, respondeu-lhe: “Ora, pois! como queres assustar-me com a morte que eu desejo? Para me espantar, deverias antes prometer-me a vida”. E, dizendo isto, estendeu o pescoço para ao algoz lhe cortar a cabeça. O Beato João Batista Machado, sacerdote da Companhia de Jesus, foi encerrado em uma prisão tão úmida e tão incômoda que, durante quarenta dias, não pôde repousar nem experimentar o menor alívio dia e noite. De lá escreveu a outro religioso: “Meu Padre, com tudo isto estou tão satisfeito que não trocaria meu estado com os primeiros monarcas da terra”. O Beato Padre Carlos Espínola, da mesma Companhia, escrevia também do cárcere onde muito sofria, aos seus companheiros: Oh! como é doce sofrer por Jesus Cristo! Eu já recebi a notícia da minha condenação, e vos peço agradeçais a bondade divina o precioso dom que me faz. E em seguida assinou a carta: “Carlos Espínola, condenado por Jesus Cristo”. Pouco depois foi queimado vivo à fogo lento. Contase que, quando foi ligado ao poste, em agradecimento a Deus, entoou o salmo Laudate Dominum omnes gentes, e assim expirou. 
    Mas, perguntará alguém, como podiam os mártires sofrer com tanta alegria? Não eram de carne como nós? ou os tornava Deus insensíveis à dor? — Responde S. Bernardo: Sua paciência e sua alegria nos sofrimentos não eram efeito de sua insensibilidade, mas do amor que tinham a Jesus Cristo. A dor não lhes faltava, mas a venciam e desprezavam por amor do divino Mestre. — Um grande servo de Deus, o Padre Hippolyto Durazzo, da Companhia de Jesus, costumava dizer: Por mais que custe Deus, nunca é caro demais. — E S. José Calasans dizia: quem não sabe sofrer por Jesus Cristo, não saberá ganhá-lo. Ah! as almas que entendem a linguagem do amor, sabem bem achar nas cruzes todo o seu contentamento, porque sabem que, abraçando-as, agradam a Deus. 


Retirado do Livro: A Verdadeira Esposa de Cristo, por Santo Afonso de Ligório.

Nenhum comentário:

Postar um comentário