Aquele que se resolve a sofrer por Deus,
não padece mais. Leiamos as vidas dos Santos, e
vejamos como se deliciaram em sofrer.
Sta. Gertrudes dizia que ela gozava tanto no padecer,
que não tinha tempo mais penoso do que
quando nada sofria. Sta. Teresa dizia que não tinha
confiança em viver sem sofrer; por isso muitas vezes
exclamava: Ou sofrer ou morrer.
Sta. Maria Madalena
de Pazzi ia mais adiante e dizia: Sofrer sim, e
não morrer. — O mártir S. Procópio dizia ao tirano
que lhe aparelhava novas torturas: Atormenta-me
quanto quiseres. Não sabes que aos que amam a
Jesus Cristo, nada é mais agradável do que sofrer
por seu amor? S. Gordião ameaçado de cruel
morte se não renegasse a Jesus Cristo, respondeu:
Tenho pena de não poder morrer senão uma só vez
por Jesus Cristo meu Salvador. E assim morreu intrepidamente. — Sta. Potamiana disse ao tirano que
a condenava a morrer em uma caldeira de pez a ferver:
Pois bem, eu te peço não me atires na caldeira
de um só jato, mas a pouco e pouco, para mais sofrer
por meu Jesus. Fez-lhe a vontade o tirano, e a santa
virgem só perdeu a palavra quando o pez lhe chegou
ao pescoço e tirou-lhe a vida. — É também célebre
o martírio das virgens Fé, Esperança e Caridade que,
como refere Baronio, sendo tentadas pelo tirano Antiocho
com ameaças de tormentos, cheias de coragem
lhe responderam: Não sabes que para os cristãos
não há coisa mais aprazível que sofrer por Jesus
Cristo? A Sta. Fé depois de açoitada cortaram-lhe os
seios, atormentaram com fogo e depois decapitaram.
A Sta. Esperança fustigaram com azorragues, dilaceraram
as costas com pentes de ferro, e depois lançaram
em uma caldeira de pez a ferver. Sta. Caridade
era a menor, não passava de nove anos. Pelo que o
tirano esperava demovê-la com o temor dos suplícios. Disse-lhe pois: Minha filha, ao menos tu deves
ser prudente, e não queiras morrer atormentada como
tuas irmãs. Ao que a santa menina respondeu:
“Estás enganado, Antiocho; todos os tormentos não
me farão jamais abandonar a Jesus Cristo”. Então, o
tirano mandou suspendê-la por uma corda para torturá-la,
deixando-a cair do alto muitas vezes, até deslocar-lhe
todos os ossos. Depois fez perfurar todos os
membros da santa criança com pontas de ferro até
exalar o último suspiro, esvaída em sangue.
Vejamos agora outros exemplos mais modernos
extraídos da história eclesiástica do Japão. Ai
se refere de uma senhora casa chamada Maxencia, que, sendo posta em tormentos, não aceitou a oferta
de um dos algozes que lhe queria aliviar as penas, e
continuou constante a confessar a fé. Tendo o algoz
lhe chegado duas vezes a espada à garganta para
atemorizá-la, respondeu-lhe: “Ora, pois! como queres
assustar-me com a morte que eu desejo? Para me
espantar, deverias antes prometer-me a vida”. E, dizendo
isto, estendeu o pescoço para ao algoz lhe
cortar a cabeça.
O Beato João Batista Machado, sacerdote da
Companhia de Jesus, foi encerrado em uma prisão
tão úmida e tão incômoda que, durante quarenta dias,
não pôde repousar nem experimentar o menor
alívio dia e noite. De lá escreveu a outro religioso:
“Meu Padre, com tudo isto estou tão satisfeito que
não trocaria meu estado com os primeiros monarcas
da terra”.
O Beato Padre Carlos Espínola, da mesma Companhia,
escrevia também do cárcere onde muito sofria,
aos seus companheiros: Oh! como é doce sofrer
por Jesus Cristo! Eu já recebi a notícia da minha condenação,
e vos peço agradeçais a bondade divina o
precioso dom que me faz. E em seguida assinou a
carta: “Carlos Espínola, condenado por Jesus Cristo”.
Pouco depois foi queimado vivo à fogo lento. Contase
que, quando foi ligado ao poste, em agradecimento
a Deus, entoou o salmo Laudate Dominum omnes
gentes, e assim expirou.
Mas, perguntará alguém,
como podiam os mártires sofrer com tanta alegria?
Não eram de carne como nós? ou os tornava Deus
insensíveis à dor? — Responde S. Bernardo: Sua
paciência e sua alegria nos sofrimentos não eram efeito de sua insensibilidade, mas do amor que tinham
a Jesus Cristo. A dor não lhes faltava, mas a venciam
e desprezavam por amor do divino Mestre. — Um
grande servo de Deus, o Padre Hippolyto Durazzo,
da Companhia de Jesus, costumava dizer: Por mais
que custe Deus, nunca é caro demais. — E S. José
Calasans dizia: quem não sabe sofrer por Jesus Cristo,
não saberá ganhá-lo.
Ah! as almas que entendem a linguagem do amor,
sabem bem achar nas cruzes todo o seu contentamento,
porque sabem que, abraçando-as, agradam
a Deus.
Retirado do Livro: A Verdadeira Esposa de Cristo, por Santo Afonso de Ligório.
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