terça-feira, 18 de agosto de 2015

Pegai, filhas, daquela Cruz - Santa Teresa de Jesus

Se estais em trabalhos ou tristes, vede-O a caminho do horto: que aflição tão grande levava em Sua alma, pois, com ser mesma paciência, confessa essa aflição e dela se queixa.
Ou vede-O atado à coluna, cheio de dores, Sua carne toda feita em pedaços pelo muito que vos ama; tanto padecer: perseguido por uns, cuspido por outros, negado pelos Seus amigos, desamparado por eles, sem ninguém que saia por Ele, gelado de frio, posto em tanta soledade; que um com o outro vos podeis consolar.

Ou vede-O carregado com a cruz, que nem O deixavam tomar fôlego.
Olhar-vos-á, com olhos tão formosos e piedosos, cheios de lágrimas, e olvidará dores para consolar as vossas, só por irdes consolar-vos com Ele e voltardes a cabeça a fitá-l’o.
Ó Senhor do mundo, verdadeiro Esposo meu! (podeis dizer-Lhe, se o vosso coração se enterneceu de O ver assim, que não só queirais olhar para Ele, mas tenhais gosto de falar com Ele! Não orações compostas, mas da pena do vosso coração, que Ele as tem em muita, muita conta). Tão necessitado estais, Senhor meu e meu Bem, que queirais admitir uma pobre companhia como a minha e vejo em Vosso semblante que Vos consolastes comigo?

Pois como, Senhor meu, é possível que Vos deixem só os anjos e que nem mesmo Vos console o Vosso Pai?
Se assim é, Senhor, que tudo isto quereis passar por mim, que é isto que eu passo por Vós? De que me queixo? Que já tenho vergonha de assim Vos ter visto e quero passar, Senhor, todos os trabalhos que me vierem e tê-los em grande bem para Vos imitar nalguma coisa.
Andemos juntos, Senhor; por onde fordes, tenho de ir; por onde passardes, tenho de passar.


Pegai, filhas, daquela Cruz, para que ele não vá tão carregado. Não vos importeis se vos atropelarem os judeus. Não façais caso do que vos disserem. Fazei-vos de surdas as murmurações. Tropeçando, caindo com vosso Esposo, não vos separeis da cruz nem a abandoneis.
Olhai detidamente o cansaço com que vai caminhando e quanto seus sofrimentos superam os que padeceis. Por grandes que pinteis vossos sofrimentos e por muito que os queirais sentir, saireis deles consoladas, vendo que são brincadeiras em comparação aos do Senhor.

Perguntareis irmãs, como poderá ser isto? Alegrareis que o faríeis de boa vontade e olharíeis sempre para ele se o vísseis com os olhos do corpo no tempo em que Sua Majestade andava no mundo.
Não vos enganeis. Quem agora não quer se constranger um pouquinho para recolher a vista e contemplar o Senhor dentro de si - podendo fazer sem perigo algum, apenas a custa de um pouco de esforço - como se poria ao pé da cruz como Madalena enfrentando a morte?

Por conseguinte, irmãs, não vos julgueis capazes de tão grandes sofrimentos, se não tendes hoje ânimo para vencer dificuldades tão pequenas. Se vos exercitardes nestas pequenas coisas, podereis dispor-vos para outras maiores.


Santa Teresa de Jesus - O Caminho da Perfeição

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