"Sicut oves in inferno positi aunt; mors depascet eos - Como ovelhas são postos no inferno, eles serão pasto da morte."
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Nesta vida a morte é para os pecadores a coisa mais temida; mas no inferno será a mais desejada. "Eles procurarão a morte - diz São João - e não a encontrarão, desejarão morrer. e a morte fugirá deles."
Por isso escreve São Jerônimo: "Oh morte, quão doces seria para aqueles que outrora a acharam amarissíma!" Diz Davi que a morte fará o seu repasto nos condenados: Mors depascet eos. Destas palavras São Bernardo dá a seguinte explicação: A ovelha quando anda pastando, come apenas a verdura da erva, deixando as raízes; é assim que a morte trata os condenados: Mata-os a todos instantes, mas deixa-lhes a vida para continuar eternamente a mata-los. De sorte que, conclui São Gregório, "O condenado morre a todos os momentos, sem nunca morrer": Flammis ultricibis traditus, semper morietur.
Quando alguém agoniza no meio de sofrimentos, todos tem compaixão dele. Se ao menos o condenado tivesse uma pessoa que se compadecesse! Mas não; o miserável morre de dor a todos os instantes, e nunca haverá quem tenha pena dele. Encerrado numa sombria prisão, o imperador Zenon gritava: Abri por piedade! Como ninguém o atendesse, acharam-no morto de desespero, havendo devorado os próprios braços. Os condenados gritam do fundo do inferno, diz São Cirilo de Alexandria, mas ninguém os irá libertar, ninguém deles se compadecerá. Nemo eripit, nemo compatitur!
E quando tempo durará este miserável estado? Sempre, sempre! Lê-se nos exercícios espirituais do Padre Segneri que um dia, em Roma, se perguntou ao demônio, na pessoa de um possesso, quanto tempo devia ficar no inferno. Ao que o demônio respondeu com raiva, batendo com a mão numa cadeira: "Sempre! Sempre!". O espanto foi tão grande, que muitos moços do Seminário Romano, que estavam presentes, fizerem logo confissão geral e mudaram de vida, feridos por este sermão em duras palavras: "Sempre! Sempre!".
O bem-aventurado João de Ávila converteu uma senhora dizendo: "Minha senhora, pense nestas duas palavras: Sempre! Nunca! É o que nós também devemos fazer, se nós quisermos nos salvar: meditemos frequentemente nestas duas palavras: sempre e nunca; e nos dias de vida que porventura nos restem, procuremos viver tendo continuamente em vista a nossa eternidade. Quem vive pensando na eternidade, foge das ocasiões do pecado e procura unir-se cada vez mais a Jesus Cristo por meio de orações frequentes; quem reza, com certeza se salva, e quem não reza, com certeza se condena.
Ó meu amadissímo Jesus, se um dia tiver a desgraça de me condenar, estarei para sempre no fogo do inferno longe e separado de Vós. E ai de mim! Sei com certeza que muitas vezes tenho merecido esse inferno. Mas também sei com certeza que Vós perdoais a quem se arrepende, e que livrais do inferno a aquele que espera em Vós. Vós mesmo me dais esta certeza: Clamabit ad me...eripiam eum et glorificabo eum - Chamará por mim, livra-lo-ei e glorifica-lo-ei. Apressai-vos , ó meu Senhor, apressai-vos a perdoar-me e livrar-me do inferno. Pesa-me oh meu Deus, soberano Bem, pesa-me, acima de todos os males, de Vos haver ofendido. Restitui-me a vossa graça e dai-me o vosso santo amor.
Se eu estivesse agora no inferno, não Vos poderia mais amar. Ah, meu Deus! Que tendes feito de mal para que eu Vos odeie? Vós me amaste até morrer por mim; sois digno de amor infinito. Meu Senhor, não permitais que eu me afasta de Vós. Amo-Vos e quero amar-Vos sempre. Quis me separabit a caritate Christi? - Quem me separará do amor de Cristo? Meu Jesus, somente o pecado pode me afastar de Vós; porém não o permitais, eu Vo-lo suplico pelo sangue que derramaste por mim ; deixa-me antes de morrer. Ne permittas me separari a te.
Maria, minha Rainha e minha Mãe, ajudai-me pelas vossas orações; alcançai-me antes a morte, e mil mortes, do que separar-me eu do amor do vosso Filho.
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano– Santo Afonso
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