"Ibit homo in domun aeternitates suae - O homem irá a casa de sua eternidade."
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Erramos chamando nossa a casa na qual presentemente habitamos. Em breve, a casa do nosso corpo será uma cova, onde ficará até o dia do juízo ; e a casa de nossa alma será o céu e o inferno e ali terá de ficar durante toda a eternidade. - À sepultura os cadáveres não vão por si mesmos, vão levados por outros ; mas a alma irá por si mesma ao lugar que lhe caberá, ou de gozo eterno ou de sofrimento. O homem irá a casa de sua eternidade. Conforme o homem pratica o bem ou mal, dirige-se à casa do paraíso ou inferno, e destas casas não se muda mais para outra.
Os moradores desta terra sonham muitas vezes mudar de casa, ou por capricho ou por terem sido desalojados. Na eternidade não há mais mudança; ficar-se-á eternamente na casa, na qual se entrou primeiro: "Si ceciderit lignum ad austrum, sive ad aquilonem, in quoqumque loco ceciderit, ibi erit" - "Se a árvore cair para a parte do meio dia, ou para o norte, ou em qualquer lugar onde cair, ali ficará". Quem entrar no céu, será eternamente feliz; quem cair no inferno, será eternamente desgraçado. Quem entrar no céu, estará para sempre unido a Deus, para sempre em companhia dos santos, para sempre em suprema paz e pleno contentamento, porque todo bemaventurado estará repleto e saciado de gozo, sem receiar jamais a sua perda. Ao contrário, quem entrar no inferno, estará para sempre afastado de Deus, para sempre ardendo no fogo no meio dos réprobos.
Nem imaginemos que os sofrimentos do inferno sejam como os da terra, cujo rigor se sente menos pelo hábito. Assim como as delícias do céu jamais causarão fastio, mas parecerão sempre novas, como se fossem gozadas pela primeira vez; assim no inferno as penas nuncas perderão o seu rigor. De forma que os infelizes réprobos sofrerão durante toda a eternidade o mesmo tormento que sofreram no primeiro instante da sua entrada ao inferno.
"Oh eternidade - exclama Santo Agostinho - quem pensa em ti e não se converte a Deus, perdeu a razão ou a fé." E São Cesario acrescenta "Ai dos pecadores que entram na eternidade sem a terem conhecido, porque se descuidarem de pensar nela! Os desgraçados terão atraídos sobre si dois males irreparáveis, o primeiro será o de caírem no abismo do fogo; o segundo, o não mais dele poderem sair durante toda a eternidade, porquanto a porta do inferno só se abre para a entrada e não para a saída: Ingrediuntur et non egrediuntur.
Não, os santos não fizeram demais internando-se nos desertos e grutas, alimentando-se com ervas, e dormindo no chão, afim de salvarem sua alma. "Não - diz São Bernardo - não fizeram demais, porque se tratando de eternidade, nenhuma precaução é exagerada: Nulla nimia securitas, ubi periclitatur aeternitas - Quando Deus nos visita com a cruz de alguma enfermidade, ou de qualquer outro mal, lembremo-nos do inferno, que temos merecido, e toda tribulação parecerá leve. Digamos então como Jó: Pecvi et vere deliqui, et ut eram dignus non recepica - "Pequei e devera fui delinquente, e não tenho sido castigado como mereço."
Meu Senhor, tenho-vos ofendido e traído tantas vezes, e não tenho sido castigado como merecia; como poderia, pois, lastimar-me quando me envias alguma tribulação, a mim, que merecia estar ardendo nos abismos infernais? Suplico-vos, meu Jesus: não me mandeis ao inferno, visto que no inferno não mais vos poderia amar, mas Vos havia de odiar para sempre. Despojai-me de tudo: das riquezas, da saúde, mas não me priveis de Vós mesmos. Fazei que Vos ame Vos bendiga para sempre, e depois castigai-me e fazei de mim segundo a Vossa vontade.
Oh Mãe de Deus e minha Mãe Maria, pela vossa intercessão que tudo obtém de Deus, enche-me a graça de ser todo Dele, fazei-me pelo amor do mesmo Jesus Cristo, vosso divino Filho.
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano– Santo Afonso
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