Grande paciência é necessária para suportar a
indiferença, que a maioria dos batizados na Igreja Católica têm
pela Santa Missa: eles rescendem ateísmo e são o veneno da
piedade. Pensam eles: “Uma missa a mais, uma missa a
menos, que importa... Já é bastante ouvir a missa nos dias de
festa. A missa de tal padre é uma missa de semana santa:
quando ele surge no altar eu fujo da igreja”.
Esses que assim falam deixam perceber claramente que
pouca ou nenhuma estima têm pelo santíssimo Sacrifício da
Missa.
Sabeis que, na realidade, a Santa Missa? É o sol da
cristandade, a alma da Fé, o centro da religião Católica
apostólica com a sede em Roma, a que tendem todos os seus
ritos, todas as suas cerimônias, todos os seus sacramentos. É
uma palavra, A ESSÊNCIA DE TUDO O QUE HÁ DE BOM E
BELO NA IGREJA DE DEUS.
Por isso caros leitores meditem bem tudo que vou dizer-vos
nesta instrução.
É uma verdade incontestável que todas as religiões, que
existiram desde o começo do Mundo, tiveram sempre algum
sacrifício como parte essencial do culto devido a DEUS.
Mas porque essas religiões eram vãs ou imperfeitas, seus
sacrifícios, também, eram vãos ou imperfeitos.
Totalmente vãos eram os sacrifícios do paganismo, e nem
acode ao espírito falar sobre eles.
Quanto ao dos hebreus, eram imperfeitos.
Se bem que professassem, então, a religião verdadeira,
seus sacrifícios eram podres e defeituosos, infirma et egena
elementa, como qualifica São Paulo.
Não podiam, assim, apagar os pecados nem conferir
graça.
Só o Sacrifício que temos em nossa santa religião, que é a
Santa Missa, é um sacrifício santo, perfeito, e, em todo sentido,
completo: por ele, cada fiel honra dignamente a DEUS,
reconhecendo, ao mesmo tempo, o próprio nada e o supremo
domínio de DEUS. Davi o chama: Sacrifício de Justiça,
sacrificium justitiae; tanto porque contém o Justo dos justos e o
Santo dos santos, ou, melhor a própria Justiça e Santidade,
como porque santifica as almas pela infusão das graças e
abundância dos dons que lhes confere.
Admirai-vos, talvez, de me ouvir dizer que a Missa é uma
obra maravilhosa? E não é, com efeito, inefável maravilha o
que opera a palavra de um humilde sacerdote? Que língua
angélica ou humana poderia explicar poder tão excessivo?
Quem, jamais, pode imaginar que a palavra de um homem, que
não tem, naturalmente, a força de levantar da terra uma palha,
receberia da graça o poder surpreendente de fazer descer do
Céu o Filho de DEUS?
Aí está um poder maior que o de transportar montanhas,
esgotar o mar e abalar os céus; poder comparável, de certo
modo, àquele primeiro Fiat com que DEUS fez surgir do nada
todas as coisas, e que pode mesmo parecer sobrepujar, em
outro sentido, aquele Fiat pelo qual a Virgem Santíssima atraiu
a seu seio o Verbo Divino.
A Virgem Maria nada mais fez que fornecer a matéria do corpo
de Cristo dela formado, sem dúvida, isto é, de seu puríssimo
sangue, mas não por ela nem por sua operação: enquanto que
a voz do sacerdote, sendo instrumento de CRISTO no ato da
consagração, O reproduz de um modo novo e admirável, quer
dizer, sacramentalmente e isto tantas vezes quantas consagra.
O bem-aventurado João, o Bom, de Mântua, levou um
eremita seu companheiro a compreender esta verdade. Este
não conseguia persuadir de que a palavra de um padre tivesse
o poder de mudar a substância do pão, no Corpo de JESUS
CRISTO, e a do vinho em seu Sangue; e, o que é mais
deplorável, tinha cedido a essa tentação diabólica.
O servo de
DEUS percebeu o erro do companheiro, e, conduzindo-o a
beira de uma fonte, aí encheu de água uma taça e deu-lhe de
beber.
Depois de sorver toda a água, o outro confessou que jamais,
em toda a sua vida, provara um vinho tão delicioso. Então João,
o Bom, disse-lhe: “Não vedes o milagre, meu querido irmão?
Se, por meio de um miserável como eu, a água se mudou em
vinho pela onipotência divina, quanto mais deveis crer, por meio
das palavras do sacerdote, que são palavras de DEUS, o pão e
o vinho mudam-se no Corpo e Sangue de JESUS CRISTO?
Quem ousaria jamais pôr limites à onipotência de DEUS?”
Bastou isso para dissipar o engano do eremita, que,
expulsando de seu espírito toda a dúvida, fez grande penitência
por seu pecado.
Um espírito, falando pela boca de uma pessoa, fez com
que um judeu incrédulo compreendesse esta verdade, por meio
de uma comparação material e grosseira. O homem achava-se
numa praça com muitas pessoas, entre as quais a mulher
possessa. Nesse momento passou um padre que levava o
Santo Viático a um doente. Todos os presentes se ajoelharam e
prestaram homenagem ao Santíssimo Sacramento. Só o judeu
ficou imóvel e não deu sinal algum de respeito.
Vendo isso, a
mulher levantou-se furiosa, arrancou-lhe o chapéu e deu-lhe um
vigoroso bofetão, dizendo-lhe.
“Desgraçado, porque não te prostras diante do verdadeiro
DEUS presente neste Divino Sacramento?” – “Que DEUS?”,
replicou o judeu. “Se fosse verdade, a conseqüência seria
haver muitos deuses, pois, ao celebrarem a Santa Missa ele
estaria em cada um dos vossos altares”.
A estas palavras, o espírito, que habitava naquela mulher,
tomou um crivo e opondo-se ao sol, disse ao judeu que olhasse
os raios filtrando-se pelos buracos. Em seguida ajuntou: “Dizeme,
judeu, há então muitos sóis passando pelas aberturas
deste crivo, ou um só?” E, à resposta do judeu de que não
havia senão um sol, a mulher replicou.
“Por que te espantas, então, de que DEUS, feito Homem
e feito Sacramento, possa ter, por um excesso de amor, uma
presença real e verdadeira sobre vários altares, permanecendo,
no entanto, uno, indivisível e imutável?” Foi o suficiente para
confundir a incredulidade do judeu, que por esse raciocínio se
viu constrangido a confessar a verdade de nossa Fé.
E se o Mundo não tivesse a Santa Missa, que seria de nós?
Infelizes! Ficaríamos privados de todos os bens
sobrecarregados de todos os males. Estaríamos expostos a
todos os raios da cólera de DEUS. Alguns há que se admiram, e acham que, de certo modo DEUS
mudou a sua maneira de governar. Antigamente Ele se
nomeava de DEUS dos exércitos, e falava ao povo do meio das
nuvens, manejando o trovão; e de fato, era com todo o rigor da
justiça que castigava os pecados. Por um único adultério,
mandou passar a fio de espada vinte e cinco mil homens da
tribo de Benjamim. (Juiz 20,46).
Por um leve pecado de orgulho de Davi em computar o povo,
enviou Ele uma peste tão terrível que, em poucas horas
pereceram setenta mil pessoas (II Sam. 24,15)
Por um só olhar curioso e desrespeitoso dos betsamitas, fez
que cinqüenta mil deles perecessem. (I Sam. 6, 19).
E agora suporta, com paciência, não só vaidades e
irreverências, mas adultérios, os mais vergonhosos, escândalos
gravíssimos, e tantas blasfêmias horríveis que muitos cristãos
vomitam contra Seu Nome Santíssimo.
Porque assim acontece? Por que tão grande mudança de
conduta? Serão as ingratidões dos homens mais escusáveis
hoje do que outrora? Bem ao contrário, são muito mais
culpáveis, já que os imensos benefícios de DEUS se
multiplicam cada dia.
A verdadeira razão desta clemência espantosa é a Santa
Missa, pela qual esta grande Vítima, que se chama JESUS, se
oferece ao Eterno PAI. Eis aí o sol da santa Igreja que dissipa
as nuvens e torna sereno o céu.
Eis aí o arco-íris que detém os raios da Divina Justiça. Creio
para mim que, não fosse a Santa Missa, o Mundo estaria já no
abismo, incapaz de suportar o imenso fardo de suas
iniqüidades.
Para isto, quando participamos da Santa Missa, devemos imitar
Afonso de Albuquerque. Achando-se, com sua frota, em perigo
de naufragar numa horrível tempestade, teve uma inspiração:
tomou nos braços uma criança que viajava em sua nau, e,
elevando-a ao alto, exclamou: “Se todos somos pecadores,
esta criaturinha é certamente sem mácula, Ah! Senhor por amor
deste inocente compadecei-vos dos culpados!” Acreditareis? A
vista dessa criança inocente agradou tanto a DEUS, que Ele
acalmou o mar e devolveu a alegria àqueles infelizes, gelados
já pelo terror da morte certa.
Ora, qual pensais seja a atitude do Eterno Pai, quando o
sacerdote, levantando a Santa Hóstia, lhe apresenta o Divino
FILHO? Ah! seu amor não pode resistir à vista do inocente
JESUS; Ele se sente forçado a acalmar nossas tormentas, e
acudir a todas as nossas necessidades. Sem esta santa vítima,
portanto, sem JESUS sacrificado por nós, primeiro sobre a
Cruz, e todos os dias sobre nossos altares, estaríamos
perdidos, e poderia cada um dizer a seu companheiro: “Até à
vista no inferno! Sim, sim, no inferno, no inferno! Até à vista no
inferno!”
Retirado do livro, As Excelências da Santa Missa: https://catholicatraditio.files.wordpress.com/2012/05/as-excelncias-da-santa-missa.pdf
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