Ubi thesaurus vester est, ibi et cor vestrum erit – “Onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc 12, 34)
Sumário. Foi desde criança que o Santo Doutor começou a praticar a devoção a Jesus sacramentado, visitando-o todos os dias: com o crescer dos anos cresceu também a sua devoção, de forma que a sua vida foi como que uma estada contínua na presença da santíssima Eucaristia. Procuremos imitar Santo Afonso: em toda necessidade, em toda a tentação, em todo o negócio mais importante recorramos sempre ao Santíssimo Sacramento para auxílio e conselho. Estejamos convencidos de que esta devoção é a mais agradável a Deus e a mais proveitosa para nós.
I. “É incontestável que, entre todas as devoções, a que nos faz adorar Jesus no Santíssimo Sacramento, é, depois da frequência dos sacramentos, a primeira, a mais agradável a Deus e a mais proveitosa para nós.” (1) Esta bela verdade, enunciada pelo nosso Santo, foi por ele posta em prática desde a sua mais tenra idade, e nunca mais deixou de a praticar, nem mesmo entre os multíplices afazeres do foro.
Feito em seguida sacerdote, missionário e bispo, reconhecia que era a sua devoção a Jesus sacramentado que devia a graça de ter deixado o mundo, e tendo por outro lado mais comodidade para dar expansão à sua devoção, tomou esta tão grande incremento, que a sua vida se tornou como que uma estada contínua na presença da santíssima Eucaristia. Isso, não somente para desafogar com Jesus Cristo o seu amor; mas também para o consultar em suas dúvidas, buscar junto d’Ele força para seus trabalhos, e pedir-Lhe luzes na direção das almas. – Se o santo Doutor trabalhou com tanto fruto no tribunal da penitência, se as suas pregações foram tão eficazes, se os seus escritos abundam de uma unção celeste, a causa principal é esta: Antes de entrar no confessionário, ou subir ao púlpito ou pôr-se a escrever, Afonso ia sempre inspirar-se orando horas a fio diante do sagrado tabernáculo.
Aplicava-se a celebrar a santa Missa com o máximo fervor e procurava assisti-la as mais vezes possível. Escreveu tantas e tão belas meditações sobre o Santíssimo Sacramento; diversos métodos de preparação para o divino sacrifício ou a santa comunhão e de ações de graças. Escreveu em particular o livrinho das Visitas, no qual cada palavra é uma seta de amor que ele lança a Jesus sacramentado, seu Bem.
Afligia-se o Santo vendo os ultrajes que a Jesus no Santíssimo Sacramento fazem não somente os hereges, mas também tantos católicos maus e tíbios: “Meu dulcíssimo Jesus”, exclamava, “quisera poder lavar com minhas lágrimas, até com meu sangue, todos aquele lugares infelizes nos quais o vosso amor é tão ultrajado neste Sacramento! Oxalá pudesse fazer com que todos os homens se abrasassem de amor ao Santíssimo Sacramento! Mas se não posso fazer tanto, desejo ao menos e proponho visitar-Vos freqüentemente, para Vos adorar em desagravo dos desprezos que recebeis da parte dos homens.” – Numa palavra, todos os pensamentos de Afonso, todos os afetos do seu coração, dirigiam-se a Jesus no Santíssimo Sacramento; este era o seu caminho, a sua verdade, a sua vida. Felizes de nós, se o soubermos imitar!
II. Seja o fruto da presente meditação um firme propósito de imitar os exemplos de teu Protetor e Pai. Não deixes passar um dia sem fazeres uma visita a Jesus sacramentado, e, sendo possível, visita-o cada dia mais vezes. Aproxima-te da sagrada mesa conforme o permitir teu Diretor, e quando não puderes comungar sacramentalmente, supre-o ao menos com muitas comunhões espirituais.
Além disso, ouve cada manhã a santa Missa; e, conforme a exortação do santo Doutor, “ouve o maior número de missas que puderes, porque cada missa bem assistida produz tesouros de merecimentos”. – Se és sacerdote, nunca deixes de celebrar o sacrifício divino com a preparação e ação de graças convenientes, e vê se observas as cerimônias prescritas pela Igreja. – Finalmente, à imitação de Santo Afonso, em toda a necessidade, em toda a tentação, em todo o negócio de mais importância, recorre sempre ao divino Sacramento para conselho e auxílio, faze-o, senão corporalmente, ao menos espiritualmente.
Meu santo Protetor, alegro-me convosco por estardes já no céu, onde contemplais Jesus Cristo, já não debaixo das espécies sacramentais, mas face a face, e O amais com esse amor que plenamente sacia e contenta o vosso coração, que na terra desejou tão ardentemente amá-Lo. Visto que no céu, com o incremento do vosso amor, cresceu também o vosso desejo de O ver amado, ajudai, ó meu Pai, a minha pobre alma, que deseja arder convosco de santo amor à bondade infinita, digna do amor de um número infinito de corações. – Dizei a Jesus que me comunique uma parte do amor que vós tivestes para com o diviníssimo Sacramento, afim de que de hoje em diante me mostre pelas obras vosso digno filho. Meu, Pai, fazei-o pelo amor que tendes à vossa e minha querida Mãe, Maria.
Referências:
(1) Santo Affonso I 568
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 277-280)
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