domingo, 18 de agosto de 2019

O Fariseu e o Publicano

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Duo homines ascenderunt in templum, ut orarent: unus pharisaeus et alter publicanus – “Subiram dois homens ao templo a fazer oração; um fariseu e outro publicano” (Lc 18, 10)
Sumário. Da parábola do Evangelho de hoje bem se conclui que, se a virtude de humildade nos é necessária sempre em toda parte, ela nos é mais indispensável ainda na oração; e especialmente quando vamos à igreja, que é casa de oração. Quem não é humilde, não espere ser atendido, pois que o Senhor protesta que “o que se exalta, será humilhado”. Lancemos um olhar sobre nós mesmos e, reprovando a altivez do fariseu, procuremos imitar sempre o procedimento tão humilde do publicano.
I. Eis aqui a bela parábola que Jesus Cristo propôs a uns que confiavam em si mesmos como se fossem justos e desprezavam os outros. “Subiram dois homens ao templo a fazer oração, um fariseu e outro publicano. O fariseu, em pé, orava, em seu interior, desta forma: Graças te dou, meu Deus, porque não sou como os demais homens, que são uns ladrões, uns injustos, uns adúlteros, nem como é este publicano. Jejuo duas vezes na semana; pago dízimo de tudo que tenho. O publicano, pelo contrário, posto lá de longe, não ousava nem sequer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Meu Deus, sê propício a mim, pecador. – Digo-vos que este voltou justificado para sua casa, e não o outro; porque todo o que se exalta será humilhado e todo o que se humilha, será exaltado: “Omnis qui se exaltat, humiliabitur; et qui se humiliat, exaltabitur.”
Desta parábola, meu irmão, pode-se deduzir que, se a virtude da santa humildade nos é necessária sempre e em toda parte, ela nos é mais indispensável ainda quando dirigimos a Deus as nossas orações, e especialmente quando estamos na igreja, que é a Casa de oração. – Quem não é humilde, não espere ser atendido; porquanto Deus não pode suportar aqueles orgulhosos que confiam em suas próprias forças e se julgam melhores que os outros. Por isto, como escreve São Tiago (1), resiste aos pedidos dos orgulhosos, não os ouve, não os defere, antes os rejeita. Muitas vezes as próprias orações daqueles orgulhosos, segundo a expressão do Salmista, mudam-se em pecado: Et oratio fiat in peccatum (2) – “A sua oração se lhe impute a pecado”.
Ao contrário, o Senhor não sabe desprezar um coração contrito e humilhado, ainda que no passado tenha sido grande pecador; para com este é liberal de suas graças. É-lhe, por assim dizer, impossível deixar de atendê-lo; pois que, como nos assegura o Eclesiástico:
“A oração do humilde penetrará as nuvens e não se consolará enquanto não chegar até o Altíssimo e não se retirará até que o Senhor ponha nele os olhos.” (3)
– Numa palavra, assim conclui Santo Agostinho:
Quando alguém se humilha, Deus lhe vai ao encontro para o abraçar; mas quando alguém se exalta e se gloria da sua sabedoria, das suas ações, Deus afasta-se dele e o abandona, de sorte que infalivelmente será humilhado.
II. Eis, pois, meu irmão, o que tens de fazer, se desejas que Deus atenda a teus pedidos, te perdoe as faltas cometidas e te faça sempre progredir mais no caminho da perfeição: Ao passo que reprovas o orgulho e a arrogância do fariseu, procura imitar a humildade do bom publicano, de quem fala a parábola do Evangelho,
Vê como ele fica, o mais possível, longe do altar: a longe stans, reconhecendo-se desta maneira indigno de estar na presença de Deus e na companhia de homens de bem. – O pejo que ele tem de seus pecados, confunde-o a ponto de nem sequer se atrever a levantar os olhos ao céu: Nolebat nec oculos ad coelum levare. Finalmente, batendo nos peitos em sinal de arrependimento, repete incessantemente: Meu Deus, tende piedade de mim, pecador; palavras estas que, em contraste com o fariseu, o fazem voltar para casa justificado: Descendit hic iustificatus in domum suam.
Por este exemplo deves modelar a tua oração afim de que seja aceita de Deus; com a única diferença, porém, de que, como o publicano, por temor reverencial, ficou longe do sagrado altar, assim, acedendo ao desejo de Jesus Cristo, te aproximes dele o mais possível, para receber a santa comunhão ou celebrar o sacrifício divino. Lembrado de tua indignidade, aproxima-te sempre, não só com amor, mas também com temor e tremor (4); admirando-te de como Deus se dignou de te admitir entre os convidados à sua mesa eucarística.
Quando tiveres recebido teu Senhor dentro de ti, humilha-te mais ainda na presença de sua Majestade divina e dize com o mesmo publicano:
Ó Deus, sê propício a mim, pecador.
– “Ó meu Deus, que manifestais a vossa onipotência particularmente em perdoar e usar de misericórdia, multiplicai sobre mim a vossa misericórdia, para que, atraído pelas vossas promessas, me façais participante dos bens celestes.” (5)
– Fazei-o pelo amor de Maria Santíssima.
Referências:
(1) Tg 4, 6
(2) Sl 108, 7
(3) Eclo 35, 21
(4) Ef 6, 5
(5) Or. Dom. curr.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 303-306)

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