"A caridade não é ambiciosa".
Quem ama a Deus, não anda à busca de afeição das pessoas. Seu único desejo é estar bem com Deus, o único objeto de seu amor. Escreve Santo Hilário que as honrarias deste mundo são negócios do demônio. É isso mesmo, porque ele negocia para o inferno quando introduz na alma os desejos de estima. Perdendo a humildade, qualquer pessoa se coloca em risco de abraçar todos os males. Deus, ao dar suas graças, abre sua mão aos humildes e a fecha aos orgulhosos: Deus resiste aos orgulhosos, isto é, nem sequer escuta suas orações.
Entre os atos de orgulho, certamente um é este: ambicionar a afeição dos homens e tornar-se vaidoso com as honras recebidas deles.
Muito espantoso foi o exemplo de Frei Justino. Ele tinha adquirido um grande grau de conhecimento de Deus, mas possivelmente ou certamente alimentava dentro de si o desejo de ser estimado pelo mundo. Eis o que lhe aconteceu. Um dia, o Papa Eugênio IV mandou chamá-lo. Pela fama que tinha de sua santidade, recebeu-o com muitas honras, abraçando-o e fazendo com que se assentasse junto dele. Depois deste fato. Frei Justino encheu-se de vaidade, de tal forma que São João Capistrano lhe disse: 'Frei Justino, você foi lá como um anjo e voltou como um demônio'. Deu fato, crescendo dia a dia em seu orgulho, pretendendo ser tratado como julgava merecer, chegou até a matar um frade com um punhal. Depois perdeu a fé e morreu, apóstata, numa prisão.
Por isso, quando ouvimos ou lemos que caíram certos cedros do Líbano, um Salomão, um Tertuliano, um Osio, é sinal que eles não se deram totalmente a Deus. É sinal que interiormente alimentavam em si sentimentos de orgulho e por isso caíram.
Tremamos de medo, portanto, quando sentirmos aparecer em nós qualquer desejo de aparecer e de ser estimado pelo mundo. Quando as pessoas nos homenagearem, cuidado para não nos comprazermos nessas honras. Elas poderão ser a causa de nossa ruína.
Vida oculta
Cuidemo-nos especialmente de andar buscando pequenas honras. Dizia Santa Teresa: 'Onde há pequenos pontos de honra, não haverá espírito interior'.
Muitas pessoas dizem ter vida espiritual, mas idólatras da estima própria. Mostram exteriormente certas virtudes, mas ambicionam ser louvadas por tudo o que fazem e quando não há ninguém que as louve, louvam-se a si mesmas. Procuram, enfim, parecer melhores do que os outros e, se por acaso alguém as machuca em algum ponto de honra, perdem a paz, deixam de comungar, abandonam todas as suas devoções. Não ficam sossegadas enquanto não lhes parecer que readquiririam a fama perdida.
Aqueles que amam a Deus de verdade não fazem assim. Fogem de falar em seu próprio louvor, não se comprazem nas palavras elogiosas que lhe dizem. Longe de tudo isso, eles se entristecem com tais elogios e se alegram quando são desprezados pelas pessoas.
Dizia S. Francisco de Assis: 'Sou aquilo que sou diante de Deus'. Que valor ser estimado pelas pessoas deste mundo, se diante de Deus somos nada? Ao contrário, o que importam os desprezos do mundo, se somos agradáveis e queridos aos olhos de Deus? Escreveu S. Agostinho: 'O elogio do adulador não cura a má consciência; nem as injúrias de quem ofende ferem a consciência boa'. Dessa forma, quem nos louva não nos livra do castigo de nossas más ações e quem nos condena não nos tira o merecimento de nossas boas ações. Dizia S. Teresa: 'Que nos importa sermos julgados como culpados pelas pessoas, tidos por ordinários, se diante de Deus somos grandes e inocentes?'. Os santos desejavam viver desconhecidos e desconsiderados por todos. Escreve São Francisco de Sales: 'Que mal as pessoas nos fazem quando tem uma fraca opinião de nós, se nós mesmos a devemos ter? Talvez saibamos que somos maus e pretendemos que os outros nos tenham por bons?'.
Vida Simples
Como é segura a vida escondida para aqueles que querem amar de todo o coração a Jesus Cristo! Jesus mesmo nos deu o exemplo disso, vivendo desconhecido e desprezado durante trinta anos numa oficina. Por isso os santos, fugindo à estima dos homens, foram viver nos desertos e nas grutas. Dizia S. Vicente de Paulo: 'O gosto de aparecer, de ser elogiado, o desejo de que seja louvado o comportamento, de que se diga que somos bem sucedidos e que fazemos maravilhas, é um mal. Fazendo-nos esquecer de Deus, prejudica nossas ações mais santas e torna-se para nós o vício mais pernicioso ao progresso da vida espiritual.
Aquele, portanto, que quer crescer no amor a Jesus Cristo, precisa fazer morrer em si mesmo o amor à própria estima.
- Como se faz morrer a própria estima?
Diz-nos Santa Maria Madalena de Pazzi:
- 'A Vida da própria estima é a boa reputação na qual os outros nos têm. Portanto, a morte da própria estima consiste em nos escondermos para não sermos conhecidos de ninguém. Enquanto não chegarmos a morrer desse modo, não seremos verdadeiros servos de Deus.'
Portanto, para nos fazemos agradáveis aos olhos de Deus, é preciso afastar de nós o desejo de aparecer e de agradar aos outros homens. Principalmente refrear o desejo de dominar os outros. Santa Teresa preferia que o seu mosteiro, com todas as religiosas, fosse devorado pelo fogo, antes que entrasse lá essa maldita ambição. Se, por acaso, uma das suas religiosas pretendesse ser superiora, queria que fosse expulsa do convento ou, no mínimo, encarcerada para sempre. Santa Maria Madalena de Pazzi dizia: 'A honra de uma pessoa desejosa da vida espiritual está em ser colocada depois de todos os outros e em ter horror de ser preferida aos outros. A ambição de uma pessoa que ama a Deus deve ser a de superar a todos na humildade: 'nada fazendo por competição ou vanglória, mas com humildade.
Resumindo, quem ama a Deus não deve ter outra ambição senão Deus.
S. Afonso de Ligório, livro: A Prática do Amor a Jesus Cristo.
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