quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Por que Jesus nasceu em Belém?


Por que Jesus deveria nascer em Belém, e não em Jerusalém, Nazaré ou mesmo Roma? Há motivos para pensar assim:
1. Com efeito, Isaías diz: “A lei virá de Sião e a palavra de Deus de Jerusalém” (2, 3). Ora, Cristo é a verdadeira Palavra de Deus. Logo, tinha de vir ao mundo em Jerusalém.
2. Além disso, está escrito a respeito de Cristo, no Evangelho de Mateus, que “será chamado nazareno” (2, 23). Isto está tomado da profecia de Isaías: “uma flor nascerá de sua raiz” (11, 1). Ora, ‘Nazaré’ quer dizer flor. Mas alguém é denominado sobretudo do lugar em que nasceu. Logo, parece que deveria ter nascido em Nazaré, onde também foi concebido e criado.
3. Ademais, o Senhor veio ao mundo para anunciar a fé na verdade, como diz o Evangelho de João: “Eu nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade” (18, 37). Ora, tal missão teria resultado mais fácil se tivesse nascido na cidade de Roma, que então dominava o mundo. Por isso Paulo, na Carta aos Romanos, diz: “No mundo inteiro se proclama a vossa fé” (1, 8). Logo, parece que não deveria nascer em Belém.
RESPOSTA : Cristo quis nascer em Belém por dois motivos. Primeiro, porque “é da descendência de Davi segundo a carne”, como se diz na Carta aos Romanos (1, 3). É a Davi que foi feita uma promessa especial a respeito de Cristo, segundo o livro dos Reis: “Oráculo do homem posto no alto, do Messias do Deus de Jacó” (23, 1). Por isso quis nascer em Belém, onde nascera também Davi, para que, pelo mesmo lugar do nascimento, aparecesse a realização da promessa que lhe ytinha sido feita. É o que mostra o evangelista ao dizer: “Porque era da casa e da família de Davi”.
E, em segundo lugar porque, como diz Gregório: “Belém quer dizer ‘casa do pão’. E o próprio Cristo afirma: ‘Eu sou o pão vivo, que desceu do céu’”.
Quanto às objeções acima, deve-se, portanto, responder que:
1. Deve-se dizer que Davi nasceu em Belém, mas escolheu Jerusalém para estabelecer nela a sede de seu reino e ali edificar o templo de Deus. Assim, Jerusalém viria a ser ao mesmo tempo a cidade real e sacerdotal. Mas o sacerdócio de Cristo, e o seu reino, se realizaram principalmente em sua paixão. Por isso era conveniente que, para nascer, escolhesse Belém e para a paixão Jerusalém.
Além disso, desmascarava assim a glória dos homens que se orgulham de ter nascido em cidades famosas, nas quais querem principalmente ser honrados. Cristo, pelo contrário, quis nascer numa cidade sem nome e padecer opróbrios numa cidade famosa.
2. Cristo quis distinguir-se por um modo de ser virtuoso, não por sua origem carnal. Por isso quis ser criado e educado em Nazaré; e em Belém quis nascer como um estrangeiro. Pois, como diz Gregório: “Pela humanidade que tinha assumido nasceu como em terra estranha; não segundo o poder, mas segundo a natureza”. E Beda acrescenta: “Por estar necessitado de um lugar na hospedaria, estava a nos preparar muitas moradas na casa de seu Pai”.
3. Como se lê num sermão do Concílio de Éfeso: “Se tivesse escolhido a ilustre cidade de Roma, teriam pensado que a conversão do orbe terrestre se devia ao prestígio de seus cidadãos; se fosse filho do Imperador, teriam atribuído as vantagens ao poder. Mas para que fosse reconhecido que a divindade transformara o orbe terrestre, escolheu uma mãe pobrezinha e uma pátria mais pobre ainda”.
Pois Deus escolheu o que é fraco no mundo para confundir o que é forte”, como se diz na primeira Carta aos Coríntios (1, 27). Por isso, para manifestar mais o seu poder, estabeleceu em Roma, que era a capital do universo, a cabeça de sua Igreja, em sinal de perfeita vitória e para que dali se estendesse a fé ao mundo inteiro, segundo as palavras de Isaías: “Abateu a cidade inacessível; pisá-la-ão os pés dos pobres”, isto é, de Cristo, “e os passos dos desvalidos” (26, 5-6), isto é, dos Apóstolos Pedro e Paulo.
(Suma Teológica, III, q. 35,a. 7)

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