"Assim como o sol eclipsa todos os astros noturnos,
pelos seus raios ofuscantes, diz São Boaventura,
Maria ultrapassa a todos os demais eleitos em graça e em virtudes".
Em substância, sim, já dissemos
tudo. Em seus pormenores, porém, a graça, para ser coroada de glória,
deve transformar-se aqui na terra em virtudes, como a água, para
tornar-se nuvem, deve passar pelo estado de vapor, assim como a árvore
ou a planta, para produzir a semente, deve primeiramente cobrir-se de
abundantes flores.
"Maria", cheia de graça", não é, pois, "cheia de glória", senão porque é também "cheia de virtudes". Graça, virtude e glória são, de fato, as três etapas da felicidade eterna.
É
que a graça não é uma coisa morta, mas uma luz, um impulso, um anelo,
que afasta a substância de nossa alma, obriga-a a agir, a impele para
fora de si mesma e a eleva para Deus.
A graça faz tudo isso!
E o que não teria feito esta plenitude de graças em Maria?...
Quantas virtudes heróicas e doces não A teriam impelido!...
Maria é bela, toda bela, porque a
incomensurável grandeza que A elevou a Deus, se baseia nas graças mais
raras. Com a graça a grandeza é mais característica; com a grandeza a
graça é mais graciosa.
A beleza incomparável das
montanhas, com as frondes altivas, flancos convulsos, os cimos
embranquecidos de neve, reside neste eterno contraste da grandeza que
se eleva e tudo afronta, assim como a beleza das graças se compõe de
condescendências e fraquezas aparentes, que sobre seus flancos se
lançam, assim como a seus pés, e sobre os cimos.
As orlas destes fantásticos
rochedos se cobrem de musgos floridos, de pequenas e verdejantes
violetas, que são como um sorriso, uma graça florescente, e dão à
grandeza este beleza que atrai, suaviza e encanta.
Assim
Maria, tão real, tão elevada, tão divina, era doce, humilde, de
virginal modéstia, repleta de ternura, de amor, transbordante de todas
as virtudes.
Para compreender o número, a
extensão e a intensidade das virtudes praticadas pela Virgem santa,
seria, pois, necessário compreender o número, a extensão e a intensidade
das graças que Lhe foram concedidas.
Experimentemos já formar uma imagem a Seu respeito. Escutemos Santo Antonino resumi-la em quatro palavras:
"Em
primeiro lugar Ela possui todas as graças gerais e especiais de todos
os santos, em um grau supremo. Em segundo lugar, Ela teve graças que
jamais foram concedidas a natureza alguma. Em terceiro lugar, várias
dentre estas graças eram tão sublimes, que criatura alguma era capaz de
receber maiores, por exemplo, a maternidade divina. Em quarto lugar, Ela
encerra em Seu seio virginal a graça incriada, fonte de todas as
graças, abismo das grandezas - o próprio Deus". (Summum. P.4, tít. 15, c. 20,15)
1. Maria praticou todas as virtudes, de todos os santos, em grau supremo.
2. Ela elevou a heroicidade de Suas virtudes a um grau de intensidade jamais alcançado por santo algum.
3. Todas as Suas virtudes foram tão sublimes, que nenhuma outra criatura seria capaz de alcançá-lA.
4. Encerrou em Seu seio o foco e o modelo de todas as virtudes, a própria virtude, a ponto de Ela mesma tornar-se "toda virtude".
Exalta-se
a justiça de Noé, fé de Abraão, a castidade de José, a paciência de
Jó, e Maria reuniu as virtudes de todos os patriarcas, e de tal modo,
que Ela foi o modelo acabado de cada uma delas.
Deus derramou a mãos cheias Suas riquezas neste vaso de alabastro.
Ela não foi privada nem mesmo
dos dons, que, segundo o apóstolo, são essencialmente conferidos para o
bem do próximo, como sejam o conhecimento das línguas, a inteligência
das Escrituras, o espírito profético, etc...
Uma das virtudes que mais distinguem a gloriosa Virgem é a Sua incomparável humildade.
"A graça santificante, diz São Bernardino de Sena,
cumulando-A de todas as virtudes, aprofundou a Sua alma, desde o
princípio, no abismo da humildade... A ninguém foi concedido, como a
esta Virgem bendita, verificar melhor o nada que é a criatura,
humilhar-se tão profundamente e aniquilar-Se tão completamente sob a
vontade da Majestade divina".
(De concep. B. Virg. Art. I, C. 3)
"Vede, diz ainda o mesmo santo,
como em santa emulação lutam na Santíssima Virgem a humildade e a
bondade de Deus. Maria se humilha e Deus Se compraz em elevá-lA. Não
basta a Maria humilhar-Se de um modo comum, mas Ela Se abisma na mais
profunda humildade"
(De Assumpt. Art. 2. C. 2)
Foi dado à irmã Paula de Foligno
compreender, em um êxtase, qual havia sido a humildade da Santíssima
Virgem. Em seguida, querendo contar ao seu confessor o que ela havia
visto, não soube, em seu espanto, senão exclamar: "A
humildade de Maria!... a humildade de Maria! Ah! meu padre, não existe
no mundo nem sequer o menor grau de humildade que se possa comparar com a
humildade de Maria".
Um dia fez Nosso Senhor ver a
Santa Brigida duas senhoras, dentre as quais uma não era senão fausto e
vaidade, dizendo-lhe ao mesmo tempo: "Eis o orgulho!" Mas a outra, cabisbaixa, que se mostra muito respeitosa e considera-se um nada; "eis a humildade, lhe diz ainda, e esta última se chama Maria".
Por
este meio quis Nosso Senhor fazer-nos compreender que a Sua
bem-aventurada Mãe podia, tão grande era a Sua humildade, ser
considerada como a humildade em pessoa.
"De fato, diz São Gregório de Nissa,
a humildade é entre todas as virtudes talvez a mais custosa na prática à
nossa natureza corrupta pelo pecado. Mas é preciso tirar dela o nosso
proveito, diz Santo Afonso de Ligório (Glórias de Maria: Virtudes de
Maria). Se não formos humildes, jamais seremos filhos de Maria. Daí esta
palavra de São Bernardo: 'Se não sabeis, como o fez Maria, abraçar a
virgindade, é preciso que, ao menos, a exemplo da Virgem Maria,
pratiqueis a humildade'. - Si non potes virginitatem humilis, imitare
humilitatem Virginis".
(De laud. B. Virg. hom.)
Tudo o que nos dizem os santos a
respeito da humildade da Santíssima Virgem deve-se entender como dito
de todas as virtudes, pois Ela praticou-as todas em grau heróico. É o
que Lhe valeu o título que a Igreja Lhe confere: "Rainha de todos os santos", o que equivale ao título de Senhora de todas as virtudes.
"Assim como o sol eclipsa todos os astros noturnos, pelos seus raios ofuscantes, diz São Boaventura, Maria ultrapassa a todos os demais eleitos em graça e em virtudes".
E nós, que aspiramos a um dia
fazer parte desta gloriosa falange dos santos, quão grande e intenso
amor devemos ter para com aquela que será o nosso modelo e nossa
Rainha!...
(Por que amo Maria, pelo Pe. Júlio Maria, continua com o post: Deus, enamorado da beleza de Maria)
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