Os
impuros dizem que os pecados contra a pureza são um pequeno mal. Como "a
porca... chafurdando na lama" (2 Pedro 2,22), eles estão imersos em sua
própria sujeira, de modo que não veem a maldade de seus ações e,
portanto, não sentem nem abominam o mau odor de suas impurezas, que
provocam repulsa e horror a todos os outros. Será que você, que diz que o
vício de impureza é apenas um pequeno mal, eu pergunto, será que você
poderá negar que isso é um pecado mortal? Se negar, você é um herege,
pois, como diz São Paulo: “Não vos enganeis: nem os impuros, nem os
idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os devassos, nem os
ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os difamadores, nem os
assaltantes hão de possuir o Reino de Deus.” (1Coríntios 6,9-10). Isto é
um pecado mortal, logo, não pode ser um pequeno mal. É um pecado maior
que o roubo, que a difamação, que a violação do jejum. Como então você
pode dizer que não se trata de um grande mal? Talvez para você o pecado
mortal pareça ser um pequeno mal? Será que é um pequeno mal desprezar da
graça de Deus, virar as costas para Ele e perder a Sua amizade por
causa de um prazer transitório e bestial?
Santo Tomás ensina que o
pecado mortal, por ser um insulto contra um Deus infinito, contém de
certa forma uma malícia infinita. "Um pecado cometido contra Deus, tem
de certa forma uma infinidade, por conta da infinidade da Divina
Majestade” - Santo Tomás. Será que o pecado mortal é um pequeno mal? Ele
é um mal tão grande que, se todos os anjos e todos os santos, os
apóstolos, os mártires, e mesmo a Mãe de Deus, oferecessem todos os seus
méritos para expiar um só pecado mortal, a oferta não seria suficiente.
Não, porque a expiação ou a satisfação seria finita, mas a dívida
contraída pelo pecado mortal é infinita, por conta da infinita majestade
de Deus, que foi ofendida. O ódio que Deus tem dos pecados contra a
pureza está além do que podemos medir. Se alguém encontrar seu prato
sujo, ficará aborrecido e não irá comer. Então, imagine com que desgosto
e indignação Deus, que é a própria pureza, verá as impurezas imundas
pelas quais Sua lei é violada? Ele ama a pureza com um amor infinito, e
consequentemente Ele tem um ódio infinito contra a sensualidade que os
homens lascivos e voluptuosos chamam de pequeno mal. Até os demônios,
que ocupavam um alto grau no céu antes de sua queda, desdenham de ter
que seduzir os homens a cometer pecados da carne.
Santo Tomás diz que
Lúcifer, que foi supostamente o diabo que tentou Jesus Cristo no
deserto, tentou-O a cometer outros pecados, mas desprezou tentá-Lo a
pecar contra a castidade. Seria isto um pecado pequeno mal? Seria então
um pequeno mal ver um homem dotado de uma alma racional, enriquecida com
muitas graças divinas, cair, pelo pecado de
impureza, ao nível de um
bruto? "A Fornicação e o prazer", diz São Jerônimo, "pervertem a
compreensão e transformam os homens em bestas". Nos voluptuosos e
impuros, são literalmente verificadas as palavras de Davi: "O homem não
permanece com o seu esplendor, é como animal que perece."-( Salmo 48,13).
São Jerônimo diz que não há nada mais vil e degradante, que alguém
deixar-se ser conquistado pela carne. "Nihil vilius quam vinci a carne".
Poderia ser um pequeno mal se esquecer de Deus e bani-lo da alma, para
poder dar ao corpo uma satisfação vil, da qual você sentirá vergonha,
quando acabar? O Senhor reclama disso por meio de Ezequiel: “Por isso,
assim diz o Senhor Javé: Dado que te esqueceste de Mim e Me voltaste as
costas, agora carrega também a tua devassidão e as tuas prostituições” -
Ezequiel 23:35. Santo Tomás diz que, devido a todos os vícios, mas
especialmente pelo vicio da impureza, os homens são lançados para longe
de Deus. "Per luxuriam maxime recedit a Deo".
Além disso, os pecados
de impureza, em virtude do seu grande número, são um mal imenso. Um
blasfemador nem sempre blasfema, mas só quando está bêbado ou quando é
provocado pela ira. O assassino, cujo trabalho é matar os outros, em
geral não comete mais que oito ou dez homicídios. Mas os impuros são
culpados de uma torrente incessante de pecados, por pensamentos, por
palavras, por olhares, por complacências, e por toques, de modo que,
quando vão à confissão, eles acham impossível dizer o número de pecados
que cometeram contra a pureza. Mesmo durante o sono, o diabo lhes
representa objetos obscenos, de modo que ao acordar, eles se deleitem
com eles, e porque se fizeram escravos do inimigo, eles obedecem e
aprovam as suas sugestões, porque é fácil cair no hábito deste pecado.
Para os outros pecados, como a blasfêmia, a difamação e os assassinatos,
os homens não estão propensos, mas para este vício, a natureza os
inclina. Por isso, Santo Tomás diz que não há pecador tão pronto a
ofender a Deus, como o devoto da luxúria, em toda ocasião que lhe
ocorre. "Nullus ad Dei contemptum promptior". O pecado da impureza traz
em sua formação os pecados da difamação, do roubo, do ódio, e de gostar
de suas abominações imundas. Além disso, normalmente envolve a malícia
do escândalo. Outros pecados, tais como uma blasfêmia, um perjúrio, um
assassinato, criam horror naqueles que os testemunham, mas este pecado
induz os outros, que são carnais, a cometê-lo, ou, pelo menos, a
cometê-lo com menos horror.
"Totum hominem", diz São Cipriano, "agit
in triumphum libidinis". Por meio da luxúria, o Diabo triunfa sobre o
homem inteiro, sobre seu corpo e sobre sua alma, sobre sua memória,
enchendo-a com a lembrança de prazeres impuros, a fim de fazê-lo gostar
deles; sobre o seu intelecto, para fazê-lo desejar ocasiões de cometer o
pecado; sobre a vontade, fazendo-o amar as impurezas como seu fim
último, e como se não houvesse Deus. “Eu havia feito um pacto com meus
olhos: não desejaria olhar nunca para uma virgem. Que parte me daria
Deus lá do alto.” ( Jó 31,1-2). Jó tinha medo de olhar para uma virgem,
porque ele sabia que se consentisse com um mau pensamento, Deus não
deveria ter parte com ele. De acordo com São Gregório, a partir da
impureza
surgem a cegueira do entendimento, a destruição, o ódio a Deus e o
desespero quanto à vida eterna. Santo Agostinho diz que, embora os
impuros possam envelhecer, o vício da impureza não envelhece neles. Por
isso, Santo Tomás diz que não há pecado em que o Diabo se deleite tanto
como neste pecado, porque não há outro pecado a que a natureza se apegue
com tanta tenacidade. Ela adere ao vício da impureza tão firmemente,
que o apetite por prazeres carnais se torna insaciável. Vá agora, e diga
que o pecado da impureza não é mais que um pequeno mal. Na hora da
morte, você não dirá isso, todos os pecados dessa espécie lhe aparecerão
como um monstro do inferno. Você não será capaz de dizê-lo ante o Juízo
de Jesus Cristo, que lhe dirá o que o Apóstolo já lhe disse, "Nenhum
fornicador, ou impuro... terá herança no reino de Cristo e de Deus."-
Efésios 5,5). O homem que viveu como um animal, não merece assentar-se
entre os anjos.
Caríssimos irmãos, continuemos a orar a Deus para nos
livrar desse vício, senão perderemos nossas almas. O pecado da impureza
traz com ele a cegueira e a obstinação. Todos os vícios produzem
sombras no entendimento, mas a impureza produz em maior grau do que
todos os outros pecados. "A fornicação, o vinho e a embriaguez acabam
com o raciocínio." - (Oséias 4,11). O vinho priva-nos da compreensão e da
razão, o mesmo faz a impureza. Por isso, Santo Tomás diz que o homem que
se entrega aos prazeres impuros, não vive de acordo com a razão. "In
nullo procedit secundum judicium rationis". Ora, se os impuros estão
privados da luz e já não veem o mal que fazem, como poderão odiar esse
mal e mudar de vida? O profeta Oséias diz que, estando cegos devido a
sua própria lama, eles nem sequer pensam em voltarem-se para Deus;
porque as suas impurezas tiram-lhes todo o conhecimento de Deus. “Seu
proceder não lhes permite voltarem ao seu Deus, porque um espírito de
prostituição os possui; eles desconhecem o Senhor.” ( Oséias 5,4). Por
isso, São Lourenço Justiniano disse que este pecado faz os homens se
esquecerem de Deus. “Os prazeres da carne induzem ao esquecimento de
Deus". E São João Damasceno ensina que "o homem carnal não pode olhar
para a luz da verdade”. Assim, os lascivos e voluptuosos não entendem o
que quer dizer graça de Deus, julgamento, inferno e eternidade. "Caiu
fogo sobre eles, e não viram mais o sol." ( Salmo 57,9). Alguns desses
cegos meliantes vão tão longe a ponto de dizer que o adultério não é em
si pecaminoso. Eles dizem que ele não foi proibido na Antiga Lei, e em
apoio a esta doutrina execrável, eles invocam as palavras do Senhor a
Oséias: "Vai e desposa uma mulher dada ao adultério, e aceita filhos
adulterinos." ( Oséias 1,2). Em resposta, digo que Deus não permitiu a
Oséias cometer adultério, mas desejava que ele se casasse com uma mulher
culpada de adultério, e os filhos deste casamento eram chamados filhos
adulterinos, porque sua mãe tinha sido culpada desse crime. De acordo
com São Jerônimo, esse é o significado das palavras do Senhor a Oséias. O
santo doutor diz: "Id circo fornicationis appellandi sunt filii, quod
sunt de meretrice generati". Mas o adultério sempre foi proibido, sob
pena de pecado mortal, na Velha
como na Nova Lei. São Paulo diz:
“Nenhum fornicador, ou impuro... terá herança no reino de Cristo e de
Deus."( Efésios 5,5). Perceba a impiedade para a qual a cegueira de tais
pecadores os carrega! Por causa desta cegueira, embora eles venham aos
sacramentos, suas confissões são nulas por falta de verdadeiro
arrependimento, porque como será possível para eles terem verdadeiro
arrependimento, quando não conhecem nem detestam seus pecados?
O
vício da impureza também traz consigo a obstinação. Para vencer as
tentações, especialmente contra a castidade, a oração contínua é
necessária. “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. Pois o
espírito está pronto, mas a carne é fraca.” ( Marcos 14,38). Mas como os
impuros, que estão sempre procurando novas tentações, poderão orar a
Deus para livrá-los da tentação? Eles às vezes, como Santo Agostinho
confessou de si mesmo, abstém-se da oração, devido ao medo de serem
ouvidos e curados da doença, que eles desejam que não acabe. "Eu temia",
disse o santo, “que Vós irieis em breve ouvir-me e curar-me do pecado
da concupiscência, que eu desejava ver saciado, em vez de extinto”. São
Pedro chama este vício de pecado insaciável. "Têm os olhos cheios de
adultério e são insaciáveis no pecar." (2 Pedro 2,14). A impureza é
chamada de um pecado insaciável por conta da obstinação que ela induz.
Alguns viciados nela dizem: Eu sempre confesso este pecado. Tanto pior,
porque, como você sempre recai no pecado, essas confissões servem para
fazer você perseverar no pecado. O medo da punição é diminuído, dizendo:
Eu sempre confesso este pecado. Se você pensava que esse pecado
certamente merecia o Inferno, você dificilmente diria: eu não vou
desistir, eu não me importo de ser condenado. Mas o diabo engana você.
Ele diz: Cometa esse pecado depois você o confessará. Mas, para fazer
uma boa confissão de seus pecados, você deve ter verdadeira tristeza de
coração e um firme propósito de não pecar mais. Onde estão essa tristeza
e esse firme propósito de emenda, se você sempre volta ao vômito? Se
você tivesse essas disposições, e tivesse recebido a graça santificante
em sua confissão, você não teria recaído, ou pelo menos você deveria ter
se abstido por um tempo considerável antes de recair. Você sempre caiu
no pecado, em oito ou dez dias, e talvez em um tempo menor, após a
confissão. Que sinal é esse? É um sinal de que você estava sempre em
inimizade com Deus. Se um homem doente imediatamente vomita o remédio
que ele toma, é um sinal de que a doença é incurável.
São Jerônimo
diz que o vício da impureza, quando habitual, cessará quando o infeliz
homem que se entrega a ele for lançado no fogo do inferno. "Oh, fogo
infernal, luxúria, cujo combustível é a gula, cujas faíscas são as
breves conversas, cujo fim é o inferno". Os impuros se tornam como o
abutre que se deixar ser morto pelo caçador em vez de abandonar a
podridão dos corpos de que se alimenta. Foi o que aconteceu a uma jovem,
que, depois de ter vivido com o hábito do pecado com um rapaz, caiu
doente, e pareceu se converter. Na hora da morte, ela pediu a seu
confessor para sair e conversar com o rapaz, a fim de exortá-lo a mudar
de vida com a visão de sua morte. O confessor muito imprudentemente deu a
permissão, e disse-lhe o que
deveria dizer a seu cúmplice em pecado.
Mas escute o que aconteceu. Logo que ela o viu, esqueceu sua promessa
ao confessor e a exortação a dar ao jovem. E o que ela fez? Ela
levantou-se, sentou-se na cama, esticou os braços para ele, e disse:
Amigo, eu sempre te amei, e mesmo agora, no fim da minha vida, eu te
amo, eu vejo que por você eu irei para o inferno, mas eu não me importo,
eu estou disposta, por seu amor, a ser condenada. Após estas palavras,
ela caiu de costas na cama e expirou. Esses fatos são relatados pelo
Padre Segneri. Oh! Quão difícil é para uma pessoa que contraiu o hábito
deste vício mudar de vida e voltar-se sinceramente a Deus! Quão difícil é
para essas pessoas não caírem no inferno, como a infeliz jovem de quem
acabamos de falar.
-Por Santo Afonso
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