Rogamos autem vos, fratres... ut vestrum negotium agatis - Nós vos
rogamos, irmãos... Que trateis de vosso negócio. (1 Tess. 4,10 e 11)
O negócio da nossa salvação eterna não só é para nós o mais
importante, mas o único que nos deve preocupar; porque, se errarmos,
está perdido tudo. O pensamento da eternidade bem meditado basta para
fazer um santo. O servo de Deus P. Vicente Carafa dizia que, se todos os
homens se lembrassem, com viva fé, da eternidade da vida futura, a
terra se tornaria um deserto; pois que ninguém se ocuparia ainda com os
negócios da vida presente.
Oh! Se todos tivessem sempre diante dos olhos a
grande máxima ensinada por Jesus Cristo: " De que serve ao homem ganhar o
mundo inteiro, se vier a perder a sua alma?" Foi esta a máxima que
levou tantos homens a deixarem o mundo; tantas virgens nobres, e até de
sangue real, e se encerrarem num convento; tantos anacoretas a irem
viver nos desertos; e tantos mártires a darem a vida pela fé.
Lembravam-se de que, se perdessem a alma, todos os bens deste mundo de
nada lhes poderiam servir na vida eterna. - Eis porque o Apóstolo
escreveu a seus discípulos: "Não vos rogamos, meus irmãos.. Que trateis
de vosso negócio. De que negócio é que falava o Apóstolo? Falava daquele
negócio cuja perda acarreta a perda do reino eterno do paraíso, e o ser
lançado num abismo de tormentos que nunca jamais terão fim.
Tinha, pois, razão, São Felipe Neri em chamar de loucos a todos
aqueles que nesta vida só cuidem de riquezas e dignidades e pouco se
importam com a salvação da alma. Todos eles, dizia o Bem Aventurado João
de Avila, mereceriam ser encerrados num hospício de alienados. Como?
(Quis dizer o Bem Aventurado) vós credes que há uma eternidade de gozos
para os que amam o Senhor e outra eternidade de penas para os que o
ofendem; e apesar disso ainda o ofendeis?
Toda a perda de riquezas, de reputação, de parentes, de saúde, e
mesmo da vida, é reparável; ao menos por uma boa morte e pela aquisição
da vida eterna, como sucedeu aos santos mártires. Mas qual o bem deste
mundo, qual a fortuna, seja embora a maior que se possa esperar nesta
vida, que compensa a perda da alma? Quam dabit homo commutationem pro anima sua? - Que dará o homem em troca de sua alma?
Quem morre na amizade de Deus e perde a alma, perde ao mesmo tempo toda esperança de reparar a sua ruína: Mortuo homine impio non erit ultra spes -
Morto o homem ímpio, não resta mais esperança alguma. Oh Céus! Se o
artigo da vida eterna não fosse senão uma simples opinião duvidosa dos
doutores, deveríamos ainda fazer todo o empenho para nos assegurar a
eternidade bem-aventurada e nos livrar da eternidade infeliz. Mas não;
não é uma coisa duvidosa; é uma certeza, é um ponto de fé, que uma ou
outra nos caberá em sorte.
Mas, ó maravilha! Toda a pessoa que tem fé e medita nesta verdade,
diz: Com efeito, é preciso cuidar da salvação da alma; e contudo são
poucos os que nisso cuidam deveras. Usa-se de toda prudência para ganhar
tal demanda, obter tal posto, e põe-se de parte o negócio da salvação
eterna, sem pensar, como diz o Espírito Santo, que este erro é pior do
que todos os outros; pois, perdida a alma, está perdida
irremediavelmente. - Utinam saperent et intelligerent, ac novissima providerent.
- Oxalá que eles tivessem sabedoria e inteligência, e previssem os
fins. Infelizes dos sábios que sabem muita coisa, mas não sabem cuidar
da sua alma, para obterem uma sentença favorável no dia do juízo!
Ah, meu Redentor, derramastes o vosso sangue para adquirirdes a
minha alma, e eu tantas vezes a perdi e tornei a perde-la! Agradeço-Vos o
tempo que ainda me concedeis para a recuperar recuperando a vossa
graça. ó meu Deus, antes tivesse eu morrido e nunca Vos tivesse
ofendido! Consola-me, porém, que não sabeis desprezar um coração
humilhado e contrito que se arrepende de seus pecados. + Meu Jesus,
misericórdia! - Ó Maria, refúgio dos pecadores, socorrei um pecador que
se recomenda a vós e tem confiança em vós.
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