domingo, 18 de setembro de 2016

Do negócio da eterna salvação, por Santo Afonso de Ligório

Rogamos autem vos, fratres... ut vestrum negotium agatis - Nós vos rogamos, irmãos... Que trateis de vosso negócio. (1 Tess. 4,10 e 11)
   O negócio da nossa salvação eterna não só é para nós o mais importante, mas o único que nos deve preocupar; porque, se errarmos, está perdido tudo. O pensamento da eternidade bem meditado basta para fazer um santo. O servo de Deus P. Vicente Carafa dizia que, se todos os homens se lembrassem, com viva fé, da eternidade da vida futura, a terra se tornaria um deserto; pois que ninguém se ocuparia ainda com os negócios da vida presente.
    Oh! Se todos tivessem sempre diante dos olhos a grande máxima ensinada por Jesus Cristo: " De que serve ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma?" Foi esta a máxima que levou tantos homens a deixarem o mundo; tantas virgens nobres, e até de sangue real, e se encerrarem num convento; tantos anacoretas a irem viver nos desertos; e tantos mártires a darem a vida pela fé. Lembravam-se de que, se perdessem a alma, todos os bens deste mundo de nada lhes poderiam servir na vida eterna. - Eis porque o Apóstolo escreveu a seus discípulos: "Não vos rogamos, meus irmãos.. Que trateis de vosso negócio. De que negócio é que falava o Apóstolo? Falava daquele negócio cuja perda acarreta a perda do reino eterno do paraíso, e o ser lançado num abismo de tormentos que nunca jamais terão fim.
    Tinha, pois, razão, São Felipe Neri em chamar de loucos a todos aqueles que nesta vida só cuidem de riquezas e dignidades e pouco se importam com a salvação da alma. Todos eles, dizia o Bem Aventurado João de Avila, mereceriam ser encerrados num hospício de alienados. Como? (Quis dizer o Bem Aventurado) vós credes que há uma eternidade de gozos para os que amam o Senhor e outra eternidade de penas para os que o ofendem; e apesar disso ainda o ofendeis?
    Toda a perda de riquezas, de reputação, de parentes, de saúde, e mesmo da vida, é reparável; ao menos por uma boa morte e pela aquisição da vida eterna, como sucedeu aos santos mártires. Mas qual o bem deste mundo, qual a fortuna, seja embora a maior que se possa esperar nesta vida, que compensa a perda da alma? Quam dabit homo commutationem pro anima sua? - Que dará o homem em troca de sua alma?
    Quem morre na amizade de Deus e perde a alma, perde ao mesmo tempo toda esperança de reparar a sua ruína: Mortuo homine impio non erit ultra spes - Morto o homem ímpio, não resta mais esperança alguma. Oh Céus! Se o artigo da vida eterna não fosse senão uma simples opinião duvidosa dos doutores, deveríamos ainda fazer todo o empenho para nos assegurar a eternidade bem-aventurada e nos livrar da eternidade infeliz. Mas não; não é uma coisa duvidosa; é uma certeza, é um ponto de fé, que uma ou outra nos caberá em sorte.
    Mas, ó maravilha! Toda a pessoa que tem fé e medita nesta verdade, diz: Com efeito, é preciso cuidar da salvação da alma; e contudo são poucos os que nisso cuidam deveras. Usa-se de toda prudência para ganhar tal demanda, obter tal posto, e põe-se de parte o negócio da salvação eterna, sem pensar, como diz o Espírito Santo, que este erro é pior do que todos os outros; pois, perdida a alma, está perdida irremediavelmente. - Utinam saperent et intelligerent, ac novissima providerent. - Oxalá que eles tivessem sabedoria e inteligência, e previssem os fins. Infelizes dos sábios que sabem muita coisa, mas não sabem cuidar da sua alma, para obterem uma sentença favorável no dia do juízo!
    Ah, meu Redentor, derramastes o vosso sangue para adquirirdes a minha alma, e eu tantas vezes a perdi e tornei a perde-la! Agradeço-Vos o tempo que ainda me concedeis para a recuperar recuperando a vossa graça. ó meu Deus, antes tivesse eu morrido e nunca Vos tivesse ofendido! Consola-me, porém, que não sabeis desprezar um coração humilhado e contrito que se arrepende de seus pecados. + Meu Jesus, misericórdia! - Ó Maria, refúgio dos pecadores, socorrei um pecador que se recomenda a vós e tem confiança em vós.

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