Fili, peccasti? Ne adicias iterum; sed et de pristinis deprecare ut tibi
dimittantur - Filho, pecaste? Não tornes a pecar, pelo contrário roga
para que os pecados cometidos te sejam perdoados. (Ecl. 21,1)
Tal é o conselho que nos dá o Senhor, porque nos quer salvar: que
não tornemos a ofende-Lo, e que de hoje em diante procuremos obter o
perdão dos pecados cometidos: Ne adicias iterum sed et de pristinis deprecare, ut tibi dimittantur.
Meu irmão, quanto mais ofendeste a Deus, tanto mais deves recear-te de
uma nova ofensa, porque um pecado a mais poderia fazer baixar a balança
da divina justiça, e ficarias condenado. Não digo que depois de mais um
pecado não haverá absolutamente perdão para ti; não sei; mas pode
acontecer. Dize, pois, quando fores tentado: Quem sabe se Deus ainda me
quererá perdoar e se não ficarei condenado?
Dize-me: se fosse provável que alguma iguaria
contem veneno, havias de prova-la? Se cresses com certa probabilidade
que em algum caminho os teus inimigos estão a tua espreita para te tirar
a vida, passarias por ele, havendo outro mais seguro? E que certeza, ou
mesmo que probabilidade tens de que, pecando de novo, terás depois
verdadeiro arrependimento e não recairás outra vez? Ou que Deus não te
deixará morrer no ato mesmo do pecado, ou depois dele te abandone?
Ó Deus! Quando compras uma casa, tomas toda as providências para
legalizar o negócio e não perder o dinheiro. Quando tomas um remédio,
primeiro procuras certificar-te de que não te fará mal. Se passas um
rio, tomas precauções para não cair na água. E depois por uma satisfação
miserável, por um prazer imundo, quererás por em risco a salvação
eterna dizendo: Espero que me hei de confessar? - Escuta o que te diz
Santo Agostinho: Deus, assim fala o Santo, prometeu o perdão ao que se
arrepende, mas não prometeu o dia seguinte ao que o ofende. Se pecares,
pode ser que Deus te dê tempo de fazer penitência, pode ser que não. Se
não te der, que será de ti em toda a eternidade? Entretanto, perdes a
alma por miserável prazer e a põe em perigo de ficar eternamente
perdida.
Avivemos a nossa fé. Dize-me, meu irmão, a existência do céu e do
inferno é uma verdade santa, ou uma pura invenção? Crês que, se a morte
te colhesse em estado de pecado, estarias perdido para sempre? Que
temeridade, pois, o condenar-te a uma eternidade de penas, dizendo:
Espero mais tarde reparar as minhas faltas! Nemo sub spe salutis vult aegrotare -
Não há ninguém tão louco, diz Santo Agostinho, que tome veneno e diga:
Pode ser que depois me cure com remédios. E queres condenar-te a uma
morte eterna, dizendo: talvez me livre mais tarde?
Ó loucuras, que arrastou e continua a arrastar tantas almas ao
inferno, segundo a ameaça do Senhor: Pecaste, fiando-te temerariamente
na misericórdia divina; mas o castigo cairá de improviso sobre ti, sem
que sabias de onde vem.
Eis me aqui, Senhor, um desses insensatos que tantas vezes perdeu a
sua alma e a vossa graça, esperando readquiri-las. Ai! Que seria de mim,
se me tivésseis deixado morrer em tal tempo, ou durante estas noites,
que passei em estado de pecado? Agradeço a vossa misericórdia o ter
esperado por mim, e ter-me feito conhecer o meu desvairamento. Vejo que
quereis a minha salvação e quero salvar-me. Arrependo-me, bondade
infinita, de vos ter tantas vezes voltado as costas; amo-Vos de todo o
coração e espero pelos merecimentos de vossa Paixão, nunca mais ser tão
insensato.
Ó meu Jesus, apressai-Vos a perdoar-me, recebei-me na vossa graça,
já que não mais me quero afastar de Vós. Não quero sofrer a desgraça e a
confusão de me ver no futuro privado da vossa graça e do vosso amor.
Concedei-me a santa perseverança e fazei que sempre Vo-la peça;
particularmente, quando for tentado, implorando então em meu auxílio o
vosso santo Nome e o de vossa santa Mãe, dizendo: Meu Jesus, ajudai-me;
Maria, minha Mãe, socorrei-me. Se a tentação persistir, concedei-me a
graça de eu também persistir em invocar.
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