1. Jesus: Filho, deixa-te a ti, e achar-me-ás a mim. Despe tua vontade e
teu amor-próprio, e sempre tirarás lucro. Porque, logo que te
entregares a mim sem reservas, se te acrescentará a graça.
A alma: Senhor, em que devo renunciar-me, e quantas vezes?
Jesus: Sempre e a toda hora tanto no muito como no pouco. Nada excetuo,
mas quero te achar despojado de tudo. De outra sorte, como poderás ser
meu e eu teu, se não estiveres, exterior e interiormente, desapegado de
toda vontade própria? Quanto mais prontamente isso fizeres, tanto melhor
te acharás, e quanto mais pleno e sincero for teu sacrifício, tanto
mais me agradarás e maior lucro terás.
2. Alguns há que se entregam a mim, mas com alguma reserva, porque não
têm plena confiança em Deus, e por isso tratam de prover as próprias
necessidades. Outros, a princípio, tudo oferecem, mas depois, combatidos
pela tentação, volvem-se novamente às próprias comodidades, e eis por
que quase não progridem nas virtudes. Estes nunca chegarão à verdadeira
liberdade do coração puro, nem à graça de minha doce familiaridade,
enquanto não renunciarem de todo a si mesmos, oferecendo-se em cotidiano
sacrifício a Deus, sem o que não há nem pode haver união deliciosa
comigo.
3. Muitas vezes te disse e agora te torno a dizer: deixa-te, renuncia a
ti mesmo, e gozarás grande paz interior. Dá tudo por tudo, não busques,
não reclames coisa alguma, persevera, pura e simplesmente, em mim, e me
possuirás. Terás livre o coração e as trevas não te poderão oprimir. A
isto te aplica, isto pede, isto deseja: ser despojado de todo
amorpróprio, para que possas seguir nu a Jesus desnudado, morrer a ti
mesmo e viver eternamente. Então se dissiparão todas as vãs imaginações,
penosas pertubações e supérfluos cuidados. Logo também desaparecerá o
temor demasiado, e morrerá o amor desordenado.
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