Decimo terceiro domingo depois de pentecostes - Os dez leprosos e o pecado da ingratidão, por Santo Afonso de Ligório.
O pecado da ingratidão é um monstro tão hediondo, que desagrada
também aos homens, os quais, tendo feito algum benefício que não é
retribuído ao menos pela gratidão, sentem uma mágoa mais insuportável do
que qualquer outro sofrimento corporal, - Quanto mais, porém, este
monstro desagrada a Deus, bem o demonstra o Evangelho de hoje.
Refere São Lucas que "Entrando Jesus em uma aldeia, sairam-lhe ao
encontro dez leprosos, que pararam ao longe e levantaram a voz dizendo:
Jesus, Mestre, compadece-te de nós. E Jesus, logo que os viu, disse:
Ide, mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, enquanto iam, ficaram
limpos. Mas um deles, quando se viu limpo, voltou atrás, engrandecendo a
Deus em alta voz; e prostrou-se por terra aos pés de Jesus, dando-lhe
graças; e este era um Samaritano. E Jesus disse: Porventura não foram
dez os curados? Onde estão os outros nove? Não se achou quem voltasse e
viesse dar glória a Deus, senão só este estrangeiro."
Meu irmão, façamos aqui uma consideração: para
curar os dez leprosos Jesus Cristo fez apenas uso de um ato de sua
vontade, e todavia a ingratidão daqueles homens desagradou-lhe a ponto
de não a querer deixar passar sem censura. Quando mais não lhe deverá,
pois, desagradar a ingratidão de tantos christãos, visto que, para os
limpar da lepra do pecado, quis Jesus aniquilar-se a si mesmo, tomando a
forma de escravo; quis ser obediente até a morte de cruz; quis, enfim,
derramar o seu preciosíssimo sangue até á última gota? Lavit nos in sanguine suo - Ele nos lavou em seu sangue. Saibamos
que, conforme a revelação feita a Venerável Agueda da Cruz, a previsão
de tão monstruosa ingratidão começou a atormentar Nosso Senhor desde o
seio de Maria, e que acompanhou durante a sua vida toda até o último
suspiro.
Se a ingratidão é um vício tão abominável e tão odioso a Jesus
Cristo, a gratidão é, ao contrário, uma virtude extremamente agradável
ao seu divino Coração. Pelo que escreveu Santo Agostinho: "Não podemos
pensar, dizer nem escrever coisa melhor e mais agradável a Deus do que
estas palavras: Deo Gratias! - Graças a Deus!" - O mesmo disse
São João Crisóstomo, que acrescenta que "Não há guarda melhor dos
benefícios recebidos, do que o lembrar-se deles e agradece-los. Não há
coisa mais agradável a Deus do que uma alma grata; porque pelos inúmeros
benefícios de que Deus nos cumula todos os dias, não nos pede outra
coisa, senão que lhas agradeçamos."
Mais: a gratidão nos abre os canais da divina misericórdia, para
recebermos sempre novos e maiores dons. - Afiança-nos isso o Evangelho
de hoje, porque o leproso que voltou para dar graças a Jesus Cristo,
além da saúde do corpo, recebeu também a da alma, visto que, conforme
explicam os intérpretes, foi então iluminado acerca da divindade de
Jesus e feito em seguida seu discípulo e propagador da religião de
Cristo, realizando muitos milagres em seu nome; Fides tua te salvum fecit - Tua fé te salvou.
Longe, portanto, de imitarmos os nove leprosos ingratos,
imitemos antes o Samaritano agradecido. Voltemos atrás, com nosso
pensamento, para enumerar os benefícios recebidos de Deus, e
considerando a ingratidão com que lhes havemos correspondido,
prostremo-nos a seus pés, enaltecendo-o em alta voz, rendendo-lhe
graças, e peçamos-lhe humildemente perdão.
Ó meu Redentor amabilíssimo, graças Vos dou, e quereria morrer de
dor ao pensar que Vos ofendi tanto, a Vós que sois a bondade infinita,
que me enriquecestes de tantos dons e chegastes a fazer de vosso sangue
um banho salutar para me limpar da lepra nojenta do pecado. Meu amor,
perdoai-me, vinde tomar posse do meu coração e nunca mais Vos afasteis
dele. Amo-Vos, e cada vez que disso me lembrar, prometo fazer atos de
amor para compensar as minhas ingratidões para convosco. Ajudai-me para
que Vos seja fiel. "Aumentai sempre em mim a fé, esperança e caridade, e
fazei que ame o que mandais, para que mereça alcançar o que prometeis."
+ Doce Coração de Maria, sede a minha salvação.
Meditações de Santo Afonso Maria de Ligório - Tomo III.
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