Beatus
homo, qui audit me, et qui vigilat ad fores meas quotidie –
“Bem-aventurado o homem que me ouve e que vela todos os dias à entrada
da minha casa” (Prov. 8, 34).
Sumário.
Sendo Maria Santíssima medianeira de graça, o Senhor fê-la de certo
modo onipotente; e decretou que todas as graças que são dispensadas aos
homens passem pelas mãos da Virgem. Por outro lado, Maria é tão
misericordiosa que basta invocá-la para ser atendido. Felizes, pois, de
nós, se tivermos devoção verdadeira a esta boa Mãe, recorrermos sempre a
ela em nossas necessidades e procurarmos que os outros também a amem!
Que pecador se perdeu alguma vez tendo perseverado em recorrer a Maria?
I.
Jesus é medianeiro de justiça, Maria é medianeira de graça; e por isso,
na opinião de São Bernardo, São Boaventura, Santa Catarina de Sena, São
Germano, Santo Antônio e outros, Deus quer que nos sejam dispensadas
pelas mãos de Maria todas as graças que nos quer conceder. As orações
dos Santos junto de Deus são orações de amigos; mas as orações de Maria
são orações de Mãe. Felizes daqueles que sempre recorrem com confiança a
esta divina Mãe! Entre todas as devoções, a que mais agrada à
Santíssima Virgem é recorrer sempre a ela e dizer-lhe: Ó Maria, rogai a
Jesus por mim.
Como
Jesus Cristo é todo-poderoso por natureza, assim Maria é todo-poderosa
pela graça; pelo que obtém tudo que pede. Escreve Santo Antônio que é
impossível à Mãe pedir ao Filho alguma graça pelos seus devotos e não
ser atendida pelo Filho. Jesus se compraz em honrar sua Mãe,
concedendo-lhe tudo que ela pede. Por isso nos exorta São Bernardo:
“Busquemos a graça e busquemo-la por Maria; por ser Mãe, não pode ser
desatendida” – Quaeramus gratiam, et per Mariam quaeramus: quia Mater
est, et frustrari non potest.
Não
temamos que Maria não nos queira ouvir quando a imploramos. Ela se
deleita no seu poder para com Deus, por nos poder alcançar todas as
graças que desejamos. Basta pedir as graças a Maria para as obter. Se
não as merecemos, ela nos torna dignos pela sua intercessão onipotente e
deseja ardentemente que a ela recorramos para nos poder salvar. Que
pecador jamais se perdeu tendo recorrido com confiança e perseverança a
Maria, que é o refúgio dos pecadores? Perde-se somente aquele que não
recorre a Maria.
II.
Se nos quisermos salvar, recomendemo-nos sempre a Maria, para que
interceda por nós. Imitemos as crianças, que em todas as necessidades,
em todo o perigo que encontram, sempre recorrem à sua mãe. – As graças
que sobretudo devemos pedir à Santíssima Virgem são um amor ardente a
Jesus Cristo e uma confiança terna, filial e constante nela mesma. E
sempre que nos seja possível, quer pública, quer privadamente,
procuremos em nossas conversas dizer alguma coisa acerca desta divina
Mãe, afim de que outros lhe sejam também devotos. Desta forma, mesmo sem
sermos missionários, exerceremos um apostolado frutuoso.
Ó
Maria, sois entre todas as criaturas a mais nobre, sublime, pura, bela e
santa. Oh, se todos os homens vos conhecessem, minha Rainha, e vos
amassem como o mereceis! Mas consolo-me com o pensamento de que tantas
almas bem-aventuradas do céu e justas na terra são todas consumidas de
amor à vossa bondade e beleza. Regozijo-me, sobretudo, de que Deus por
si só vos ama imensamente mais que todos os homens e anjos juntamente.
Amabilíssima Soberana minha, ainda que miserável pecador, eu vos amo
também, mas muito pouco é o amor que vos tenho; desejo amar-vos mais e
com maior ternura; e a vós pertence obter para mim este amor; por que
amar-vos é grande sinal de predestinação e graça com que Deus favorece
aqueles que serão salvos.
Por
outro lado, vejo, ó minha Mãe, quão imensas obrigações tenho para com
vosso divino Filho; vejo que Ele é digno de amor infinito. Vós, cujo
único desejo é vê-Lo amado, deveis alcançar-me principalmente a graça de
um ardente amor para com Jesus Cristo. Suplico-vos, portanto, esta
graça, fazei que ela me seja concedida, ó vós que obtendes de Deus tudo
que desejais. Não vos peço bens terrestres, nem as honras, nem as
riquezas; peço-vos unicamente a graça de fazer o que vosso Coração mais
deseja, amar somente a meu Deus. Seria possível não quererdes favorecer o
meu desejo, um desejo que vos é tão agradável? Não, já me ajudais, já
orais por mim. Pedi, ó Maria, pedi, e não deixeis jamais de pedir
enquanto não me virdes no paraíso, onde terei a segurança de possuir e
amar eternamente a Deus convosco, ó Mãe querida. (*II 188.)
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(LIGÓRIO,
Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo
III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do
ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 38-40.)
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