O mais excelente de todos os sacramentos é
o da Eucaristia: Os outros encerram os dons de
Deus, mas a Eucaristia encerra o mesmo Deus. Por
isso o doutor angélico diz que Jesus Cristo não instituiu
os outros sacramentos senão para dispor os homens
para receber ou administrar a Santa Eucaristia,
a qual, segundo a sua expressão, é a consumação
da vida espiritual, visto que é deste sacramento que
provém toda a perfeição das vossas almas. Com
efeito, toda a vossa perfeição consiste na nossa união com Deus; ora, não há melhor meio de nos unir a
Deus, do que a santa comunhão, pela qual a alma
torna-se, por assim dizer, uma só coisa com Jesus
Cristo, como ele mesmo o declarou: Quem come a
minha carne, fica em mim, e eu fico nele. São João
Crisóstomo afirma que Jesus Cristo nos deu o seu
corpo sob as espécies de pão, afim de que nos fizéssemos uma só coisa com ele. — E segundo S. Cirilo
de Alexandria, aquele que comunga, se une a Jesus
Cristo, como dois pedaços de cera se unem,
quando se fundem juntos, de sorte que os dois não
fazem mais do que um.
Nosso divino Salvador instituiu este sacramento
sob a forma de alimento, para nos ensinar que este
pão celeste torna-se uma mesma substância conosco,
como o alimento corporal se muda em nosso
sangue, com esta diferença, que os alimentos terrestres
tomam a nossa natureza, ao passo que, recebendo
este alimento divino, nós tomamos a natureza
de Cristo. É por isso que Ruperto faz Nosso Senhor
assim falar: Comei, e sereis por minha graça o que
eu sou por natureza. É precisamente o que o Salvador
disse um dia a Sto. Agostinho: Eu não serei
mudado em vós, vós sereis mudados em mim.
O efeito principal deste sacramento é pois
entreter em nós a vida da graça. Dai lhe vem o nome
de Pão da vida; porque assim como o pão material
sustenta a vida do corpo, assim o pão espiritual sustenta
a vida da alma, que é a graça de Deus.
A Eucaristia é também um remédio muito eficaz;
é chamada pelo Concílio Tridentino um antídoto que
nos livra das faltas veniais e nos preserva dos pecados
mortais. — Como uma fonte de água viva, este
sacramento extingue o ardor das paixões que nos
consomem. Aquele que se sente abrasar por este
fogo, vá comungar, e verá logo sua paixão morta ou
pelo menos amortecida. — Dizia S. Bernardo: Se alguém
dentre vós se sente menos vezes ou menos
violentamente levado à cólera, à inveja, à incontinência, agradeça ao santo Sacramento que opera nele
este feliz efeito. — Além disso, a santa comunhão,
diz S. Tomás, nos dá força para vencer todos os assaltos
do demônio. — Quando comungamos, assegura
S. João Crisóstomo, não só os demônios se
põem em fuga, mas também vêm os anjos nos assistir.
— Demais, este sacramento faz nascer em nós
uma grande paz interior, com uma grande inclinação
para as virtudes e ao mesmo tempo muita disposição
para praticá-las, e assim nos facilita o progresso no
caminho da perfeição.
3. Sobretudo a santa comunhão como nos diz
ainda S. Tomás, infunde em nossas almas o amor
para com Deus. — Jesus Cristo declarou que veio a
este mundo para acender em nós o fogo sagrado do
seu divino amor: Vim lançar fogo sobre a terra, e qual
é o meu desejo senão que se acenda? — Ora, dizia
o venerável padre Francisco Olímpio, teatino, em nenhum
mistério de sua vida o Salvador nos inflama
tanto do seu amor que no Sacramento do altar, onde
nos comunica todo o seu ardor, dando-se todo inteiro
a nós. — Dai estas expressões de S. João, falando
da instituição deste sacramento: Jesus, sabendo que
era chegada a sua hora de passar deste mundo a
seu Pai, como tinha amado os seus, os amou até o
fim. Por estas palavras: Até o fim, os intérpretes entendem
que Nosso Senhor nos amou até nos querer
dar a maior prova possível. — Donde o Concílio de
Trento declara que, neste sacramento, Jesus Cristo
esgotou, por assim dizer, todos os tesouros do seu
divino amor para com os homens. — É pela mesma
razão que este divino mistério é chamado por S. Tomás Sacramento de amor; e por S. Bernardo Amor
dos amores. — E Sta. Maria Madalena de Pazzi
chamava ao dia da comunhão dia do amor; e dizia
que uma alma, ao acabar de comungar, pode repetir
as palavras que Jesus Cristo disse ao terminar a vida
na cruz: Tudo está consumado, isto é: Meu Deus
tendo se dado a mim, nada mais pode me dar; e eu
nada mais tenho a desejar.
Retirado do Livro: A Verdadeira Esposa de Cristo, parte II.
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