quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Excelência da Eucaristia: Efeitos da Santa Comunhão, por Santo Afonso Maria de Ligório.

     O mais excelente de todos os sacramentos é o da Eucaristia: Os outros encerram os dons de Deus, mas a Eucaristia encerra o mesmo Deus. Por isso o doutor angélico diz que Jesus Cristo não instituiu os outros sacramentos senão para dispor os homens para receber ou administrar a Santa Eucaristia, a qual, segundo a sua expressão, é a consumação da vida espiritual, visto que é deste sacramento que provém toda a perfeição das vossas almas. Com efeito, toda a vossa perfeição consiste na nossa união com Deus; ora, não há melhor meio de nos unir a Deus, do que a santa comunhão, pela qual a alma torna-se, por assim dizer, uma só coisa com Jesus Cristo, como ele mesmo o declarou: Quem come a minha carne, fica em mim, e eu fico nele. São João Crisóstomo afirma que Jesus Cristo nos deu o seu corpo sob as espécies de pão, afim de que nos fizéssemos uma só coisa com ele. — E segundo S. Cirilo de Alexandria, aquele que comunga, se une a Jesus Cristo, como dois pedaços de cera se unem, quando se fundem juntos, de sorte que os dois não fazem mais do que um. Nosso divino Salvador instituiu este sacramento sob a forma de alimento, para nos ensinar que este pão celeste torna-se uma mesma substância conosco, como o alimento corporal se muda em nosso sangue, com esta diferença, que os alimentos terrestres tomam a nossa natureza, ao passo que, recebendo este alimento divino, nós tomamos a natureza de Cristo. É por isso que Ruperto faz Nosso Senhor assim falar: Comei, e sereis por minha graça o que eu sou por natureza. É precisamente o que o Salvador disse um dia a Sto. Agostinho: Eu não serei mudado em vós, vós sereis mudados em mim. 

      O efeito principal deste sacramento é pois entreter em nós a vida da graça. Dai lhe vem o nome de Pão da vida; porque assim como o pão material sustenta a vida do corpo, assim o pão espiritual sustenta a vida da alma, que é a graça de Deus. A Eucaristia é também um remédio muito eficaz; é chamada pelo Concílio Tridentino um antídoto que nos livra das faltas veniais e nos preserva dos pecados mortais. — Como uma fonte de água viva, este sacramento extingue o ardor das paixões que nos consomem. Aquele que se sente abrasar por este fogo, vá comungar, e verá logo sua paixão morta ou pelo menos amortecida. — Dizia S. Bernardo: Se alguém dentre vós se sente menos vezes ou menos violentamente levado à cólera, à inveja, à incontinência, agradeça ao santo Sacramento que opera nele este feliz efeito. — Além disso, a santa comunhão, diz S. Tomás, nos dá força para vencer todos os assaltos do demônio. — Quando comungamos, assegura S. João Crisóstomo, não só os demônios se põem em fuga, mas também vêm os anjos nos assistir. — Demais, este sacramento faz nascer em nós uma grande paz interior, com uma grande inclinação para as virtudes e ao mesmo tempo muita disposição para praticá-las, e assim nos facilita o progresso no caminho da perfeição. 3.       Sobretudo a santa comunhão como nos diz ainda S. Tomás, infunde em nossas almas o amor para com Deus. — Jesus Cristo declarou que veio a este mundo para acender em nós o fogo sagrado do seu divino amor: Vim lançar fogo sobre a terra, e qual é o meu desejo senão que se acenda? — Ora, dizia o venerável padre Francisco Olímpio, teatino, em nenhum mistério de sua vida o Salvador nos inflama tanto do seu amor que no Sacramento do altar, onde nos comunica todo o seu ardor, dando-se todo inteiro a nós. — Dai estas expressões de S. João, falando da instituição deste sacramento: Jesus, sabendo que era chegada a sua hora de passar deste mundo a seu Pai, como tinha amado os seus, os amou até o fim. Por estas palavras: Até o fim, os intérpretes entendem que Nosso Senhor nos amou até nos querer dar a maior prova possível. — Donde o Concílio de Trento declara que, neste sacramento, Jesus Cristo esgotou, por assim dizer, todos os tesouros do seu divino amor para com os homens. — É pela mesma razão que este divino mistério é chamado por S. Tomás Sacramento de amor; e por S. Bernardo Amor dos amores. — E Sta. Maria Madalena de Pazzi chamava ao dia da comunhão dia do amor; e dizia que uma alma, ao acabar de comungar, pode repetir as palavras que Jesus Cristo disse ao terminar a vida na cruz: Tudo está consumado, isto é: Meu Deus tendo se dado a mim, nada mais pode me dar; e eu nada mais tenho a desejar.

Retirado do Livro: A Verdadeira Esposa de Cristo, parte II.

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