segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Oito minutos para uma página


No dia 2 de outubro de 1854, no pequeno pátio diante
da casa do irmão de Dom Bosco, deu-se o primeiro encontro.
Dom Bosco ficou tão impressionado que o narrou nos
mínimos particulares como se o tivesse gravado. A linguagem
é de 1800, mas a cena é viva. Parece que se está vendo:
“Era a primeira segunda-feira de outubro, bem cedo,
quando vejo um menino acompanhado de seu pai aproximar-se
de mim para falar-me. O rosto alegre, o ar sorridente,
mas respeitoso, atraíram sobre ele meus olhares.
– Quem é e de onde vem? – perguntei-lhe.
– Sou Domingos Sávio, de quem lhe falou o padre
Cugliero, meu professor. Viemos de Mondônio.

Chamei-o então à parte e pusemo-nos a falar dos estudos,
da vida que levava. Criou-se logo um clima de mútua confiança.
Percebi naquele menino uma alma plasmada segundo
o espírito de Deus e fiquei não pouco admirado ao considerar
o trabalho que a graça divina já havia realizado em
tão tenra idade.
Depois de uma conversa um pouco longa, antes que
chamasse o pai, disse-me precisamente estas palavras:
– Então, que lhe parece? O senhor me leva a Turim
para estudar?
– É, me parece que temos um bom tecido.
– E para que pode servir este tecido?
Para fazer uma roupa e dá-la de presente a Nosso Senhor.
– Então eu sou o tecido, o senhor é o alfaiate; leve-me
e faça de mim uma bela roupa para Nosso Senhor.
– Receio que sua constituição franzina não aguente os
estudos.
– Não tenha medo. Se Deus me deu saúde e graça até
agora, vai me ajudar também no futuro.
– E que desejaria fazer depois do curso de latim?
– Se Deus me conceder tamanha graça, desejo ardentemente
me tornar padre.
– Bem, agora vou saber se você tem capacidade para o
estudo. Tome este livrinho (era um fascículo das Leituras
Católicas). Hoje você estude esta página, amanhã voltará
para dizê-la de cor.
Dizendo isso o deixei em liberdade para que fosse brincar
com os outros meninos, e em seguida pus-me a falar
com o pai. Nem bem passaram oito minutos, Domingos
voltou sorridente à minha presença dizendo:
– Se quiser, posso recitar agora a minha página.
Tomei o livro e com surpresa percebi que não só havia
estudado literalmente a página marcada, mas que compreendia
muito bem o sentido do assunto nela tratado.
– Muito bem – disse-lhe –, você antecipou o estudo
da sua lição e eu antecipo a resposta. Sim, irá a Turim, e
já o conto entre os meus queridos fi lhos. Comece desde já
a pedir a Deus que ajude a mim e a você a fazer sua santa
vontade.
Não sabendo como exprimir melhor sua alegria e gratidão,
tomou-me pela mão, apertou-a, beijou-a diversas
vezes e, por fi m, disse:
– Espero agir de forma que nunca tenha que se queixar
de mim”.
(Livro: Domingos Sávio, por Terésio Bosco)

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