domingo, 20 de setembro de 2015

Necessidade de conversão - São Gaspar Bertoni

     O tempo passa, e logo desaparece a aparência deste mundo. Será preciso pois deixar aqueles prazeres que agora não abandonais por eleição. Não vistes tantos que viveram entre delícias, prazeres, satisfações mais apetecíveis dos seus apetites, que agora estão mortos? Onde está agora o seu prazer? Onde estão aqueles amigos? Onde aquelas riquezas? Onde está seu corpo tão acariciado? Abramos um sepulcro; eis cinzas, ossos descamados, vermes, horror, mau cheiro. E a alma onde está? Sepultada no Inferno, em um fogo inextinguível, em trevas eternas, em aflição, em angústias perpétuas. Que adianta gozar um pouco aqui, divertir-se, enriquecer, e depois sofrer, chorar, angustiar-se eternamente do outro lado? 
     A vossa vida presente é semelhante a um belo sonho que dormindo se alegra de ter muitas riquezas e de encontrar-se entre delícias. Passa depressa a noite, e de manhã dolorosamente se encontra com as mãos vazias. E quisesse Deus que vos encontrásseis somente com as mãos vazias. O pior é que vos encontrareis entre tormentos inexplicáveis, sem esperança de sair jamais.
     Ora, quanto tempo quereis para gozar vossos prazeres? Quantos anos quereis que vos sobrem ainda de vida? Trinta, quarenta, cinqüenta? Antes como podeis prometer-vos, se não podeis assegurar nem mesmo chegar até a tarde? E antes ainda que terminem estes anos pode terminar o vosso prazer por aquela grande mudança que ocorre nas coisas humanas, pela qual os acontecimentos mais agradáveis e mais queridos são também os mais rápidos em chegar ao fim e extraviar-se totalmente.      

     Mas dado que consigais gozar todos estes anos que vos prometeis, que são trinta, quarenta, cinqüenta anos diante da Eternidade? Aqui o bem e mal termina logo; lá tanto o tempo como o mal é eterno. E nesta vida gozamos quase em imagem e em sonho, e lá penaremos de fato e de verdade. É tendo podido nesse brevíssimo tempo e com pouquíssimas fadigas fugir daquelas penas acerbas acima de todo pensamento e irremediáveis, e ganha um Paraíso de eternas e verdadeiras delícias; o outro lado será para nós um tormento pior que o fogo. 
     Pensai um pouco, ó pecadores, naquela bem-aventurada felicidade que Deus tem preparado também para vós; e como o amoroso e bom Senhor espera com ansiedade que vos convertais, para poder dá-la em perpétua posse. Lá não haverá mais dor, nem gemidos, nem tristezas, nem pobreza, nem doenças. Tudo paz, alegria e prazer; tudo tranqüilo, tudo sereno. Um dia perpétuo. Uma vida sem fim. Uma doce conversa com os Anjos. Uma suave concórdia com todo o coro dos Santos. Uma alegre convivência com Cristo, uma feliz visão e fruição do nosso Primeiro Princípio e Último fim que é Deus.


Retirado do Livro: Páginas da Vida Cristã por São Gaspar Bertoni.

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