O tempo passa, e logo desaparece a aparência deste mundo. Será preciso
pois deixar aqueles prazeres que agora não abandonais por eleição. Não vistes
tantos que viveram entre delícias, prazeres, satisfações mais apetecíveis dos seus
apetites, que agora estão mortos? Onde está agora o seu prazer? Onde estão
aqueles amigos? Onde aquelas riquezas? Onde está seu corpo tão acariciado?
Abramos um sepulcro; eis cinzas, ossos descamados, vermes, horror, mau cheiro. E
a alma onde está? Sepultada no Inferno, em um fogo inextinguível, em trevas
eternas, em aflição, em angústias perpétuas. Que adianta gozar um pouco aqui,
divertir-se, enriquecer, e depois sofrer, chorar, angustiar-se eternamente do outro
lado?
A vossa vida presente é semelhante a um belo sonho que dormindo se alegra
de ter muitas riquezas e de encontrar-se entre delícias. Passa depressa a noite, e de
manhã dolorosamente se encontra com as mãos vazias. E quisesse Deus que vos
encontrásseis somente com as mãos vazias. O pior é que vos encontrareis entre
tormentos inexplicáveis, sem esperança de sair jamais.
Ora, quanto tempo quereis para gozar vossos prazeres? Quantos anos
quereis que vos sobrem ainda de vida? Trinta, quarenta, cinqüenta? Antes como
podeis prometer-vos, se não podeis assegurar nem mesmo chegar até a tarde? E
antes ainda que terminem estes anos pode terminar o vosso prazer por aquela
grande mudança que ocorre nas coisas humanas, pela qual os acontecimentos mais
agradáveis e mais queridos são também os mais rápidos em chegar ao fim e
extraviar-se totalmente.
Mas dado que consigais gozar todos estes anos que vos prometeis, que são
trinta, quarenta, cinqüenta anos diante da Eternidade? Aqui o bem e mal termina
logo; lá tanto o tempo como o mal é eterno. E nesta vida gozamos quase em
imagem e em sonho, e lá penaremos de fato e de verdade. É tendo podido nesse
brevíssimo tempo e com pouquíssimas fadigas fugir daquelas penas acerbas acima
de todo pensamento e irremediáveis, e ganha um Paraíso de eternas e verdadeiras
delícias; o outro lado será para nós um tormento pior que o fogo.
Pensai um pouco, ó pecadores, naquela bem-aventurada felicidade que Deus
tem preparado também para vós; e como o amoroso e bom Senhor espera com
ansiedade que vos convertais, para poder dá-la em perpétua posse. Lá não haverá
mais dor, nem gemidos, nem tristezas, nem pobreza, nem doenças. Tudo paz,
alegria e prazer; tudo tranqüilo, tudo sereno. Um dia perpétuo. Uma vida sem fim.
Uma doce conversa com os Anjos. Uma suave concórdia com todo o coro dos
Santos. Uma alegre convivência com Cristo, uma feliz visão e fruição do nosso
Primeiro Princípio e Último fim que é Deus.
Retirado do Livro: Páginas da Vida Cristã por São Gaspar Bertoni.
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