Nós lemos entre outros, no fim da vida do Padre Torres,
o exemplo de Jerônima Sanfelice, religiosa do
mosteiro de Alvino. Nos primeiros tempos, depois da
sua profissão, era tão apegada aos parentes que
sempre pensava neles, queria que viessem visitá-la
amiúde e mandava todos os dias pedir notícias de
seu pai. Ora, no mesmo convento, vivia uma sua irmã,
chamada Maria Antônia, que era tão fervorosa
que pediu a Deus a fizesse sofrer bastante. O Senhor
ouviu suas preces e enviou-lhe uma úlcera que lhe
roía as carnes e lhe causava convulsões mortais. No
meio desses espasmos, exclamava: Mais, ainda
mais, meu Esposo. Ora, estando esta irmã a morrer,
disse à Jerônima que, se fosse para o paraíso, como
esperava, lhe obteria a graça de se fazer santa. Com efeito depois da sua morte, Jerônima mudou de vida,
e, entre outras resoluções, tomou a de não mais ver
os parentes: tanto assim, que durante quarenta anos,
não quis mais apresentar-se no locutório. Dois de
seus sobrinhos vieram um dia para vê-la, mas ela
mandou despedi-los, e foi para a grade da igreja visitar
o Ssmo. Sacramento. Seus sobrinhos encontraram
na igreja, para vê-la ao menos de longe, mas ela
se retirou atrás da cortina. Entretanto, para isso, se
fez tanta violência que desmaiou. Sem violência, ninguém
chegará à santidade. Desde então, Jerônima
fez tantos progressos no amor divino que viveu e
morreu como uma santa. Depois de sua morte, tiraram
o seu retrato; e, abrindo-se o seu corpo, achouse
sobre o coração uma cruz formada de carne em
sinal do seu ardente amor a Jesus crucificado.
Pedro de Blois vai mais longe e acrescenta que o amor do sangue nos priva logo do amor de Deus.
Moisés, estando para morrer, nos deixou esta bela e magnífica sentença que convém especialmente às pessoas consagradas a Deus: Aquele que disse a seu pai e a sua mãe: Eu vos não conheço; e a seus irmãos: Eu não sei quem sois; eis o que guarda a vossa lei e se conserva fiel à vossa aliança.
Os santos conhecendo o prazer que davam a Deus, desapegando-se dos parentes, tiveram o cuidado de fugir deles o mais longe possível. — S. Francisco Xavier, quando partiu para as Índias, teve de passar perto do seu país natal, não quis porém chegar para ver sua mãe e seus parentes, embora para isso fosse instado com suas importunas súplicas e soubesse que os não tornaria mais a ver. — Tendo a irmã de S. Pacomio vindo visitá-lo, o santo voltou-lhe as costas, e mandou dizer-lhe: Já sabeis que ainda vivo, ide em paz. — Quantos nem quiseram ler as cartas dos parentes? Assim fez, por exemplo, o grande Sto. Antão, como refere S. João Clímaco. Tinha passado já muitos anos no deserto, quando recebeu cartas dos parentes. Disse consigo: que posso esperar da leitura destas cartas, senão inquietações e perda da paz de que gozo? A este pensamento, as lançou no fogo, dizendo: “Afastai-vos de mim, lembranças da minha pátria, para que não torne eu ao que deixei. Cartas, sede queimadas, para que eu não seja por vós queimado”.
Quanto a mim, dizia Sta. Teresa de Jesus, não compreendo que consolação pode ter uma religiosa junto de seus parentes. Prescindindo do apego que desagrada a Deus, ela não pode gozar dos seus divertimentos e não pode deixar de tomar parte nos
seus padecimentos.— Ó minhas irmãs, como vos quadram bem estas reflexões! Quando vossos parentes vem ao locutório, não vos podem tornar participantes de seus prazeres mundanos, porque estais encerradas na clausura e não podeis ir com eles.
Que vem fazer pois ao locutório? Só vem para vos referir seus embaraços, seus sofrimentos e sues precisões. E para que serve isso? Só serve para vos encher a cabeça e o espírito de inquietações, de distrações e de defeitos. De sorte que, de cada visita dos parentes, só lucrareis ficar distraídas e inquietas muitos dias na oração e nas comunhões, pensando em todas as que vos disseram.
Como, pois, tendo deixado o mundo para ser santas, desejais tanto, que vossos parentes venham visitar-vos com freqüência? Para que? Para que vos façam perder a vossa paz e vosso aproveitamento? E que loucura é essa pensar que não podeis viver alegres sem ver amiúde os vossos parentes? Oh! Se os abandonásseis de todo, muito melhor do que eles, Jesus Cristo vos consolaria e faria a vossa felicidade!
Moisés, estando para morrer, nos deixou esta bela e magnífica sentença que convém especialmente às pessoas consagradas a Deus: Aquele que disse a seu pai e a sua mãe: Eu vos não conheço; e a seus irmãos: Eu não sei quem sois; eis o que guarda a vossa lei e se conserva fiel à vossa aliança.
Os santos conhecendo o prazer que davam a Deus, desapegando-se dos parentes, tiveram o cuidado de fugir deles o mais longe possível. — S. Francisco Xavier, quando partiu para as Índias, teve de passar perto do seu país natal, não quis porém chegar para ver sua mãe e seus parentes, embora para isso fosse instado com suas importunas súplicas e soubesse que os não tornaria mais a ver. — Tendo a irmã de S. Pacomio vindo visitá-lo, o santo voltou-lhe as costas, e mandou dizer-lhe: Já sabeis que ainda vivo, ide em paz. — Quantos nem quiseram ler as cartas dos parentes? Assim fez, por exemplo, o grande Sto. Antão, como refere S. João Clímaco. Tinha passado já muitos anos no deserto, quando recebeu cartas dos parentes. Disse consigo: que posso esperar da leitura destas cartas, senão inquietações e perda da paz de que gozo? A este pensamento, as lançou no fogo, dizendo: “Afastai-vos de mim, lembranças da minha pátria, para que não torne eu ao que deixei. Cartas, sede queimadas, para que eu não seja por vós queimado”.
Quanto a mim, dizia Sta. Teresa de Jesus, não compreendo que consolação pode ter uma religiosa junto de seus parentes. Prescindindo do apego que desagrada a Deus, ela não pode gozar dos seus divertimentos e não pode deixar de tomar parte nos
seus padecimentos.— Ó minhas irmãs, como vos quadram bem estas reflexões! Quando vossos parentes vem ao locutório, não vos podem tornar participantes de seus prazeres mundanos, porque estais encerradas na clausura e não podeis ir com eles.
Que vem fazer pois ao locutório? Só vem para vos referir seus embaraços, seus sofrimentos e sues precisões. E para que serve isso? Só serve para vos encher a cabeça e o espírito de inquietações, de distrações e de defeitos. De sorte que, de cada visita dos parentes, só lucrareis ficar distraídas e inquietas muitos dias na oração e nas comunhões, pensando em todas as que vos disseram.
Como, pois, tendo deixado o mundo para ser santas, desejais tanto, que vossos parentes venham visitar-vos com freqüência? Para que? Para que vos façam perder a vossa paz e vosso aproveitamento? E que loucura é essa pensar que não podeis viver alegres sem ver amiúde os vossos parentes? Oh! Se os abandonásseis de todo, muito melhor do que eles, Jesus Cristo vos consolaria e faria a vossa felicidade!
Lamenta S. Jerônimo o grande número de religiosos que se condenaram, por terem tido compaixão demasiada dos parentes.
Tremamos; porque o Senhor declara que todo aquele que se pôs ao seu serviço e olha ainda para as coisas do mundo, não é mais apto para o paraíso. Quando vossos parentes quiserem vos enredar nos negócios seculares, escusai-vos polidamente. Observai a advertência que Jesus Cristo deu ao moço que, sendo chamado para segui-lo, dizia que ia primeiro enterrar seu pai: Deixai os mortos sepultar os seus mortos — O mesmo vos digo eu, caríssimas irmãs: deixai que os mundanos, a quem o Senhor chama mortos, tratem os seus negócios lá do mundo; o vosso único negócio seja amar a Deus e cuidar da vossa santificação.
Quando a Santíssima Virgem encontrou o Menino Jesus no templo, disselhe: Porque nos trataste assim, Filho? Eu e teu Pai te procurávamos cheios de dor. — Jesus lhe respondeu: Não sabíeis que eu não me devo ocupar senão das coisas que interessam a glória de meu Pai? — Do mesmo modo, quando vossos parentes se lamentarem de vos recusardes ser-lhes úteis e vos acusarem de ingratas para com eles, de inimigas das vossas famílias, respondei-lhes com firmeza que morrestes para o mundo e deveis aplicar-vos unicamente ao serviço de Deus e do vosso convento.
Termino com as palavras de S. José Calasans: Ainda não saiu do mundo a religiosa que se conserva apegada aos parentes.
Retirado do Livro: A Verdadeira Esposa de Cristo, por Santo Afonso de Ligório.
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